
Pedro Lucas Fernandes é um deputado federal (União Brasil-MA) considerado governista dentro de seu partido, mas ele conseguiu, de uma só tacada, fazer mais do que muita gente da oposição: constrangeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e expôs toda a fragilidade da base aliada no Congresso Nacional.
Líder do União Brasil na Câmara, Pedro Lucas foi apresentado no dia 10 de abril como novo ministro das Comunicações. Substituiria seu correligionário Juscelino Filho, denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) sob acusação de corrupção passiva e outros crimes relacionados a suposto desvio de emendas.
Parecia tudo certo. O deputado até foi ao Palácio da Alvorada, onde participou de uma reunião com o próprio Lula, e teve seu nome anunciado pela ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais).
Passados 12 dias, porém, ele recuou. "Minhas mais sinceras desculpas ao presidente Lula por não poder atender a esse convite. Recebo seu gesto com gratidão e reafirmo minha disposição para o diálogo institucional, sempre em favor do Brasil", disse em nota.
Pesou na decisão de Pedro Lucas o apelo de seu grupo político, preocupado com um possível enfraquecimento na Câmara caso se abrisse nova eleição para a liderança da bancada.
A atitude, por óbvio, irritou o governo, e variados dedos apontaram nas mais diversas direções, sem que se identificasse um culpado único pelo vexame.Em uma tentativa pueril de mostrar força depois dessa desfeita, áulicos fizeram circular uma versão segundo a qual o União Brasil poderia perder espaço na máquina federal. O PSD, por exemplo, estaria de olho na pasta do Turismo, hoje chefiada pela sigla de Pedro Lucas.
Acredite quem quiser nessa ameaça, mas o fato é que o governo Lula não está em condições de pressionar nenhum aliado com representação no Legislativo —e muito menos um do tamanho do União Brasil, que tem a terceira maior bancada da Câmara, com 59 deputados, além de sete senadores, entre os quais Davi Alcolumbre (AP), presidente da Casa.
Verdade que, na atual composição, a base do Planalto no Congresso oferece parcas garantias de sucesso nas votações relevantes. As derrotas de Lula no campo parlamentar formam uma montanha que o petista não imaginaria nem nos piores pesadelos.
Nada simbolizou melhor essa situação do que a aprovação do requerimento de urgência ao projeto de lei que anistia condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 —um desvio institucional que não interessa ao país. Dos 264 deputados que apoiaram a iniciativa, 61% são filiados a partidos da base governista.
Corrigir essa fragilidade talvez demande de Lula uma reforma ministerial efetiva, com maior repartição de poder entre os aliados. Para alegria da oposição, contudo, o presidente jamais deu mostras de entender esse princípio da governabilidade.(Da Folha de SP)