• Vexame da Meta reitera que rede social não é jornalismo

    573 Jornal A Bigorna 11/01/2025 10:00:00

    O anúncio feito pela Meta sobre sua nova política de moderação de conteúdo tem significado que vai além da capitulação política da empresa e do debate sobre liberdade de expressão. Trata-se de mais um sinal gritante do abismo que separa a lógica que conduz as redes sociais dos valores que norteiam o jornalismo profissional.

    As grandes plataformas de tecnologia fazem parte do ecossistema da mídia, ainda que não o assumam. Difundem diariamente, para bilhões de pessoas, variados conteúdos, como os jornalísticos, os publicitários e aqueles produzidos pelos próprios usuários.

    Não se assumem como tal porque não querem carregar obrigações típicas do setor, como responsabilizar-se pelo que veiculam e combater o anonimato.

    Graças a inovações tecnológicas e a um mercado de anúncios altamente concentrado, essas empresas alcançam faturamento que as coloca entre as mais valiosas e influentes do mundo.

    Ganham muitas horas de atenção dos usuários propagando uma mistura confusa de jornalismo com informações falsas, dúbias ou mesmo caluniosas, como se tudo fosse a mesma coisa.

    Também no aspecto corporativo essas plataformas não comungam dos valores básicos do jornalismo. Ao promover uma reviravolta em sua política de moderação de conteúdo e marchar para a órbita de Donald Trump, o CEO Mark Zuckerberg mostrou que independência não faz parte do negócio da Meta.

    A empresa, dona do Facebook, do Instagram e do WhatsApp, busca mitigar problemas com o governo que assume no dia 20.

    Seria até possível argumentar em favor da política anunciada pela Meta de baixa intervenção nas publicações —esta Folha acredita que a livre circulação de ideias tende a ser o melhor caminho para o debate público. Só que, no caso específico, a motivação eclipsa esse aspecto.

    Essas redes trarão maior quantidade de "coisas ruins", como afirmou Zuckerberg. Seria muito difícil imaginar um editor de jornal anunciando que irá deliberadamente publicar mais "coisas ruins". Mas, na sedutora lógica de engajamento das redes sociais, esse novo feed não necessariamente será ruim para a Meta.

    Líderes de inclinação golpista e populista, como é o caso de Trump, tornaram-se personagens mais e mais frequentes mundo afora, impulsionados também pelas redes sociais.

    uem dedica a vida às práticas do jornalismo profissional decerto tem seus afazeres diários dificultados nesse cenário. Para a instituição da imprensa, porém, o desafio é revigorante.

    O trabalho de apurar informações verdadeiras e de interesse público, somado à coragem de publicá-las, ganha importância ainda mais patente para a democracia. Quem prestará esse serviço à sociedade serão jornais, TVs, sites, revistas, rádios e canais de streaming que preservam os cânones do jornalismo profissional. Isso a Meta não mostrará.(Da Folha de  SP)

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