O presidente Jair Bolsonaro começa a última semana de campanha eleitoral na defensiva. Os tiros de Roberto Jefferson miraram as decisões de Alexandre de Moraes, mas acabaram ferindo agentes da Polícia Federal e acertaram, na verdade, as ambições políticas do atual presidente, que está atrás nas pesquisas e precisa conquistar eleitores de centro.
De uma só vez, Jefferson demonstrou toda a truculência da extrema-direita brasileira, representada por Bolsonaro, legitimou – ou pelo menos reforçou – as decisões tomadas por Moraes, que vinham sendo fortemente criticadas nos últimos meses e dias, e colocou o atual presidente no meio de uma pauta extremamente negativa no noticiário.
Se até aqui Bolsonaro vinha consentindo com os ataques verbais de Jefferson, desta vez, a resposta da Presidência foi rápida, mostrando a preocupação do núcleo de sua campanha com o episódio. Bolsonaro se calou ontem quando Jefferson xingou a ministra do Supremo Cármen Lúcia, mas agora, poucos minutos após os tiros, soltou nota em uma rede social dizendo que repudia “as falas do Sr. Roberto Jefferson contra a Ministra Carmen Lúcia e sua ação armada contra agentes da PF”.
Bolsonaro também determinou a ida do ministro da Justiça, Anderson Torres, à casa de Jefferson. O que pode ter sido um grave erro. Primeiro, coloca um ministro de Estado diretamente na condução do episódio. Segundo, mostra que seus apoiadores têm tratamento privilegiado quando cometem crimes em seu governo. É bom lembrar que Lula e Temer, dois ex-presidentes da República, foram presos sem a presença de ministros. O que justificaria a regalia a Jefferson agora?
Por mais que a campanha do atual presidente pareça mais motivada, depois do resultado melhor do que as pesquisas apontavam no primeiro turno, a verdade é que ela vem colecionando erros e problemas nos últimos dias. Houve ataques de apoiadores católicos em Aparecida, o episódio das jovens venezuelanas, a desindexação do salário-mínimo por Paulo Guedes, apenas para citar três casos.
Todos os agregadores de pesquisa consolidados por grandes bancos e instituições do mercado financeiro mostram Lula à frente, por uma distância entre quatro a cinco pontos. O quadro, dizem, permanece de estabilidade. Para quem precisa promover uma grande virada, os tiros de Roberto Jefferson não ajudam em nada Bolsonaro a angariar novos votos.(Do Globo/ Por Alvaro Gribel)