• 490 Jornal A Bigorna 19/01/2025 10:00:00

    Tardio

     

     

    Quando quis ser fruto

    fui fome,

    não mais do que areia

    de um chão sem cio.

    Quando sonhei ser pano

    fui agulha.

    E morri no sono do gesto

    de enrolar o fio.

    Quando aprendi a ser poente

    já não havia céu.

    Quando quis anoitecer

    tudo era luz.

    E assim me condeno

    em livre vício:

    no mais derradeiro

    eu só vislumbro um início.

    Mia Couto, Poemas Escolhidos

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