• Sociedade brasileira está acorrentada na corrupção metastática de caráter

    475 Jornal A Bigorna 03/09/2023 09:00:00

    Hoje falarei de brasileiros que mandam o Brasil às favas porque perderam a esperança nele. O Brasil é uma câmara de tortura para quem não quer fazer parte da corrupção metastática de caráter que aflige o país. Nossa herança é o cinismo.

    Corrupção metastática de caráter é um processo que afeta o tecido profundo do país. É da sua natureza não ser imediatamente movida por dinheiro, o que a faz pior ainda.

    A corrupção metastática de caráter que atravessa todas as instituições do país é um fato científico –o que não quer dizer todas as pessoas nessas instituições sejam corruptas, mas, temo que quem fica fora da "dança" tem menos chance de se dar bem.

    O horizonte da corrupção de caráter no país tem inúmeros desdobramentos. Torna o estado pobre para fazer algo que preste e enriquece os profissionais da política e um monte de gente dos escalões abaixo que espera por umas migalhas dessa riqueza ilegítima. A política é uma lástima.

    Os corruptos de sempre continuam no poder e assumem cargos altos na máquina da democracia e se locupletam mesmo com autoridades da lei, fazendo com que no Brasil o poder da lei seja insuportavelmente casuístico. Pode ir para lá ou para cá, dependendo dos ares do momento.

    O mercado do contencioso jurídico só cresce. Aqui, até fofoca das redes vira processo no Ministério Público. Não há bandido de verdade a processar?

    Aliás, o modo como o estado nas suas funções e instituições está submetido aos interesses dos governos, das ideologias e dos seus lobbies é brochante. E não foi Bolsonaro que inventou isso, e não acabou só porque ele perdeu a eleição.

    No Brasil, o Estado é lento para entregar serviços e célere para agredir seus cidadãos das mais diversas formas. Em São Paulo, a cidade se torna a cada dia refém do crack. O tráfico agradece. Quando alguém matar um usuário, o que dirão os "especialistas"? Que os comerciantes são fascistas? A esquerda compõe o cenário de canalhice institucionalizada local.

    Fazer ciência no Brasil é sacerdócio ou falta de opção de ir embora. A corrupção de caráter atinge os próprios equipamentos da cultura, transformando o mundo da cultura numa província de seus caciques, muitas vezes medíocres.

    Aqui, a teia das relações comerciais, em vários níveis, é atravessada por intermediários que visam depenar a vítima –você. Jovens se especializam em fraudes digitais com a fúria das ratazanas.

    Com as redes sociais, a miséria de alma, o autoritarismo de espírito veio à tona. A cordialidade do brasileiro, se existiu um dia, está morta. O que se quer agora é beber o sangue do outro.

    A educação pública é um lixo atávico. O subdesenvolvimento não acontece de graça, se conquista, como diria Nelson Rodrigues. Professores que ganham mal e são lentamente transformados em zumbis pobres, só pensam na sua própria falta de horizontes. Os burocratas da educação empurram o abacaxi com a barriga até acabar seu mandato e partem para outras oportunidades.

    A elite sempre foi egoísta e locupletada com a corrupção do estado em grande parte. Qualquer movimento do Estado será sempre para ferrar o contribuinte –espere para ver o quanto a reforma tributária vai pesar no bolso das mesmas pessoas, que não são ricas ou não têm cargos vitalícios na máquina do estado.

    Dirão os mais pobres que essa fuga do país é coisa da "branquitude" –acho essa expressão ridícula. Mas, não deixa de fazer sentido a ideia de que só os branquinhos têm chance de mandar o país às favas –gente com passaporte europeu ou com perfis profissionais tão sofisticados que o fato de você ser brasileiro não atrapalha porque o mercado internacional "te enxerga".

    Os outros estão condenados a falta de horizonte ou serem ilegais por aí. A viver esmagados entre a violência policial e a violência do crime organizado. Enfim, a sucumbir à insegurança pública e à indiferença ancestral. Um país feio.

    Quem sabe um dia, acordaremos e veremos uma classe política menos canalha, uma elite menos gulosa, jovens menos oportunistas, e, enfim, poderemos dizer "livres, finalmente, livres finalmente!".

    *Por Luiz Felipe Pondé

     

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