SEM PALAVRAS
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Santos Peres
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O poeta acordou com sede
de palavras:
tomou porre de vocabulário
para a arquitetura;
mediu silabas/definiu métrica,
rimou amor/dor, mundo e Raimundo...
E se prostrou:
pássaro abatido na vidraça do dia...
O poeta saltou
do décimo segundo andar
de sua inutilidade
para a cama do desconforto;
ligou na novela das seis;
acidificou-se com doses cavalares
de paixões recolhidas;
bebeu Vinicius e Neruda,
banhou-se em Álvares e Casimiro,
afogou mágoas em J. G. de Araújo Jorge
E pensando enforcar a musa
que monta banca na praça 15
- juran que esa paloma
no és outra cosa mas que su alma -
optou por abrir a janela e ir à luta:
apertar enfados e parafusos
que aluguel, pensão, marlboro,
vermuth e miojo
custam os olhos da cara
quando poesia não dá rima
e nem solução.