O dia 21 de abril, Dia de Tiradentes, tornou-se feriado nacional em 1890, poucos meses após a Proclamação da República (1889). A data fazia parte de uma lista de dias comemorativos instituídos pelo governo provisório chefiado pelo marechal Deodoro da Fonseca.
Na época, após a derrubada da monarquia, os líderes republicanos buscavam a figura de um herói nacional capaz de atrair o apoio da população à nova forma de governo. O escolhido foi Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
Nascido em Minas Gerais em 1746, Tiradentes foi tropeiro, mascate, dentista (daí o apelido) e militar, chegando ao posto de alferes (subtenente) no Regimento de Cavalaria Regular.
Na tropa entrou em contato com os ideais iluministas e da Revolução Americana, os quais inspiraram a Inconfidência Mineira, movimento que pregava o rompimento com Portugal e no qual Tiradentes tomou parte.
A revolta teve como estopim a cobrança de impostos da coroa portuguesa, mas foi delatada por Joaquim Silvério dos Reis e os participantes acabaram presos.
Dos condenados à morte, Tiradentes foi o único que teve a pena executada e acabou enforcado em 21 de abril de 1792. Seu corpo foi esquartejado e os membros, espalhados pelo caminho do Rio de Janeiro a Minas Gerais.
ÍCONE
A trágica história do alferes tornou-o popular durante o Império (1822-1889), quando sua imagem passou a ser associada à de um mártir cristão. Sua figura foi exaltada por Bernardo Guimarães e Castro Alves ("Ei-lo, o gigante da praça,/ O Cristo da multidão!/ É Tiradentes quem passa…/ Deixem passar o Titão").
Até mesmo a obra "História da Conjuração Mineira" (1873), de Joaquim Norberto, que tinha o intuito de desmoralizá-lo, acabou por reforçar o mito. O retrato que o autor fez de um Tiradentes caminhando para a morte eivado de misticismo caiu no gosto popular.
Foi, no entanto, com as artes plásticas que a figura de Tiradentes entrou para o imaginário nacional como uma espécie de Jesus Cristo brasileiro. Contribuíram para isso os retratos de Décio Villares, de 1890, e Pedro Américo, com seu icônico "Tiradentes Esquartejado", de 1893.
Apesar de ter sido pintado com barba e cabelos longos, o mais provável é que tenha sido enforcado com a cabeça e o rosto raspados.
MILITARES
A construção do herói Tiradentes não ficou restrita ao início da República. Ao longo do século 20, os militares novamente o invocariam em momentos de mudança de regime.
Em 1946, logo após a Era Vargas (1930-1945), o presidente Eurico Gaspar Dutra, oficial do Exército, decretou Tiradentes patrono das polícias civis e militares. Já em 1965, no governo Castelo Branco, a ditadura militar o alçou a patrono cívico da nação brasileira.(Da Folha de SP)