O sumiço de 26 armas do depósito da Guarda Civil Metropolitana de Cajamar, não foi o primeiro registrado em unidade policial de São Paulo. Em 2013, ao menos 31 pistolas automáticas foram furtadas do quartel da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), unidade de elite da PM paulista.
Segundo investigadores do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, as armas da Rota foram vendidas para criminosos e reforçaram o arsenal do PCC (Primeiro Comando da Capital), a maior facção criminosa do Brasil.
Uma das pistolas furtadas, modelo 24/7, número SDM 115558, foi usada por Everaldo Severino da Silva Félix, o Sem Fronteira, líder do PCC na favela de Paraisópolis, na zona sul da cidade de São Paulo, para matar o soldado da PM Genivaldo Carvalho Pereira, em 21 de março de 2013.
O soldado tinha uma namorada em Paraisópolis. À época, o irmão dela estava preso no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Jundiaí (SP). O DHPP apurou que Sem Fronteira descobriu que Pereira era policial militar e desconfiou que ele frequentava a favela para investigar o tráfico de drogas.
As investigações apontaram ainda que Sem Fronteira abordou, dominou e agrediu o soldado. Depois mandou que os três parceiros que estavam com ele algemassem o policial militar. O líder do PCC em Paraisópolis, então, exigiu que o soldado Pereira se ajoelhasse PCC matou PM com a arma da Rota.
Logo em seguida ordenou que cada um dos comparsas atirasse na cabeça de Pereira. O corpo do PM e a farda dele foram colocados no porta-malas de um carro que o soldado havia emprestado de um amigo, também militar. O veículo foi abandonado em uma rua na Vila das Belezas, zona sul paulistana.
Sem Fronteira acabou preso por tráfico de drogas em maio de 2014 e saiu da prisão, em liberdade condicional, em novembro de 2016. Em agosto de 2018, voltou a ser preso, dessa vez acusado de ter ordenado a morte da policial militar Juliane dos Santos Duarte, também em Paraisópolis
as 31 pistolas automáticas furtadas do quartel da Rota, apenas uma foi apreendida: justamente aquela utilizada pela quadrilha de Sem Fronteira para matar o soldado Pereira. As demais foram parar nas mãos de outros criminosos do PCC, segundo policiais do DHPP.
Ninguém foi responsabilizado pelo furto. Um (IPM) Inquérito Policial Militar apontou que um armeiro e soldado da Rota teria vendido as armas, mas ele foi absolvido. Ele pediu baixa da corporação. Outros 11 policiais militares foram investigados por falta disciplinar.
Três anos depois do furto, em 26 de agosto de 2016, a 9ª Vara da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça instaurou um processo, a pedido da Procuradoria do Estado, contra os 11 PMs e o ex-policial que eram responsáveis pelo funcionamento da Reserva de Armas do quartel da unidade de elite da PM paulista.
A Procuradoria do Estado entendeu que os 12 réus foram omissos ao não adotar as cautelas adequadas para evitar o sumiço das armas e propôs que eles deveriam ser condenados a pagar ao Estado, em valores da época, um total de R$ 57.970,86 pelas pistolas furtadas.(Da Folha de SP/Josmar Jozino)