Alunos de escolas públicas e particulares têm sido obrigados a se adaptar a uma rotina desafiadora: é cada vez maior o número de estabelecimentos que restringem o uso de celulares em sala de aula e, às vezes, até fora delas, durante o recreio. O argumento é que os aparelhos provocam distração, interferem no aprendizado e dificultam a socialização, pois crianças, adolescentes e jovens preferem ficar grudados nas telas a conversar com os colegas à moda antiga. O Brasil não inventou nada. Segundo a ONU, um em cada quatro países adota políticas para restringir celulares nas salas de aula. É o caso de Estados Unidos, Canadá, França, Espanha, Portugal, Suíça, Holanda e México.
Na cidade do Rio, os celulares estão proibidos em sala de aula desde agosto. A partir de março, estarão vetados também no recreio. A decisão foi, segundo a Prefeitura, tomada com base em relatórios da Organização Mundial da Saúde e da Unesco. O secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, afirma que o uso excessivo de aparelhos eletrônicos atrapalha a concentração e prejudica a aprendizagem. “É como se o aluno saísse de sala toda vez que vê uma notificação”, diz. O decreto do Executivo abre exceções para alunos com deficiência ou condições de saúde que exijam os dispositivos.
Nas redes estadual e municipal de São Paulo, o uso do celular costuma ser permitido apenas para atividades pedagógicas. Escolas particulares no estado também têm procurado restringi-lo em salas de aula. Um desses estabelecimentos providenciou um suporte ao lado do quadro, para que os estudantes possam deixar seus telefones enquanto assistem às aulas.
Em julho, um relatório da Unesco recomendou cautela com o celular em sala de aula. Dados de avaliações internacionais sugerem uma associação negativa entre o uso excessivo das tecnologias digitais e o desempenho acadêmico. “Descobriu-se que a simples proximidade de um aparelho celular era capaz de distrair os estudantes e provocar impacto negativo na aprendizagem”, diz o documento.
A questão não é o celular em si, mas seu uso. A tecnologia pode ser forte aliada na educação. Durante a pandemia, o celular cumpriu papel essencial ao permitir que alunos sem computador ou tablet acompanhassem aulas on-line. Também não se desconhece o mundo de possibilidades que o dispositivo abre a qualquer estudante. Pode ser uma ferramenta pedagógica formidável para alunos e professores, desde que usada com parcimônia.
Mas nem sempre é realista esperar o uso adequado, uma vez que os aparelhos sempre distrairão os alunos. É saudável também que crianças e adolescentes possam conversar durante os intervalos das aulas. A socialização é parte fundamental da rotina das escolas. É verdade que banir celulares do espaço escolar é uma decisão drástica, que deve ser tomada levando em conta seu impacto na rotina de diretores, professores e, sobretudo, dos pais e dos alunos. Mas pode ser plenamente justificável diante do dano comprovadamente causado pelo abuso do dispositivo.(Do Globo)