Após observar o impacto das medidas restritivas da pandemia de Covid, a oferta de cocaína disparou nos últimos anos e atingiu níveis recordes, aponta relatório da ONU divulgado nesta quinta-feira (16).
O fenômeno se deve ao aperfeiçoamento do processo de fabricação da droga e ao aumento da demanda e do cultivo de coca, que cresceu 35% entre 2020 e 2021, o maior salto desde 2016.
De acordo com a ONU, em 2020 foram produzidas cerca de 2.000 toneladas de cocaína. Em 2014, quando a produção entrou em ciclo de crescimento, esse número não chegava à metade dos níveis atuais.
Já a área de plantação de coca, matéria-prima da droga, dobrou de 2013 a 2017, atingiu um pico em 2018 e voltou a crescer em 2021. Há mais de 300 mil hectares de plantações de coca na Colômbia, no Peru e na Bolívia —os três países onde se concentram os campos de cultivo, segundo o UNODC, o Escritório da ONU sobre Drogas e Crime.
Depois de coletadas, as folhas são misturadas com gasolina, cal, cimento e sulfato de amônio e formam uma pasta branca. A substância é, então, enriquecida com um coquetel de ácidos e solventes, processo que, segundo a agência, tornou-se mais eficiente nos laboratórios dos cartéis da América do Sul.
Essa conjuntura pode ter sido influenciada pelo acordo de paz da Colômbia com as Farc, que depôs as armas em 2016. O grupo numeroso teria sido substituído por facções menores que, com menor controle de preços, conseguem negócios mais lucrativos.
"A pandemia foi um pequeno revés para a expansão da produção de cocaína, mas agora ela se recuperou e está ainda maior do que antes", afirmou Antoine Vella, pesquisador do UNODC que trabalha no relatório, ao jornal britânico The Guardian.
Quando a economia paralisou devido à crise sanitária, grupos de narcotraficantes foram obrigados a estocar as drogas, mas a situação foi rapidamente revertida com novas técnicas de transporte ilegal.
O aumento também acompanhou a abertura de outros caminhos para o tráfico. A agência chama a atenção para o surgimento de novas rotas no sudeste da Europa e na África.
A agência identificou ainda mudanças na demanda. Segundo o Guardian, 75% dos consumidores de cocaína estão na Europa e na América do Norte, embora essas duas regiões abriguem somente um quinto da população mundial. Mas o cenário parece estar mudando com o aumento no número de overdoses em países como o Brasil.
"Precisamos deixar de pensar na cocaína como um problema europeu ou norte-americano porque também é um problema sul-americano", disse Vella.
"O aumento na oferta mundial de cocaína deve nos colocar em alerta máximo", afirmou a diretora do UNODC, Ghada Waly. As apreensões atingiram o recorde de quase 2.000 toneladas em 2021.(Da Folha de SP)