A Polícia Civil acredita que as meninas de 5 e 6 anos que foram assassinadas pelo pai em Taquarituba, no interior de São Paulo, já haviam sido mortas antes do homem anunciar que estava mantendo as filhas reféns.
Segundo a Polícia Militar, a equipe foi acionada para a casa das vítimas no fim da manhã de terça-feira (24), depois que vizinhos sentiram cheiro de gás na região.
Neste momento, Natanael de Lima anunciou às autoridades que estava mantendo as filhas amarradas dentro da casa, e ameaçava explodir o imóvel com um isqueiro caso alguém se aproximasse.
A ocorrência mobilizou a Polícia Militar, Polícia Civil, Samu, Corpo de Bombeiros e o Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) durante horas. No entanto, a Polícia Civil acredita que Natáli Heloá e Natanaeli Vitória já estavam mortas quando as equipes foram acionadas.
"Por toda a impressão que a gente teve do cenário do crime e relato de testemunhas, a gente acredita que a morte dessas crianças aconteceu entre as 10h e 11h. E todo esse tempo foi só um teatro dele, da ameaça com o gás, dizendo que elas estavam com vida e tudo mais", afirma a delegada Camila Rosa Alves.
Em entrevista o capitão da Pablo Souza, da Polícia Militar, também comentou sobre a "encenação" de Natanael. Ele disse que, durante a operação, o homem não apresentava provas de que as meninas estavam vivas.
"Nós perguntamos pra ele como as crianças estavam e ele falou, em um primeiro momento, que estavam dormindo. Depois, que elas tinham acordado. E eu perguntei se elas estavam alimentadas, se ele tinha dado água para ela, e ele falou que tinha", relata o capitão.
"Aí ele parou de conversar com a gente, e a impressão que deu era de que ele foi até onde as crianças estavam e iniciou algum tipo de conversação com elas, oferecendo alimentos, mas a gente não conseguia escutar as vozes delas", continua.
No fim da tarde, a PM informou que aproveitou uma brecha nas negociações para entrar na casa. Um equipamento do GATE já havia detectado que as duas crianças estavam na casa, mas não se movimentavam.
Além disso, as equipes precisaram esperar que a concentração de gás na casa diminuísse para invadir o local, evitando uma explosão.
Segundo a Polícia Militar, Natanael estava armado com uma faca, mas foi imobilizado pelas equipes com balas de borracha e aparelho de choque. Já as duas meninas foram encontradas mortas dentro de um quarto, com cortes no pescoço.
Prisão
No dia da operação, Natanael de Lima foi preso em flagrante por duplo homicídio. Nesta quarta-feira (25), ele teve a prisão preventiva decretada pela Justiça e foi levado ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Cerqueira César.
Em depoimento à Polícia Civil, o homem disse afirmou à delegada que não se lembra das crianças. A polícia também disse que ele não tem histórico de surto psicótico e que foi descartada a possibilidade de ele estar sob o efeito de entorpecentes no momento do crime.
"Fiquei bem chocada com a reação dele. Eu mostrei a foto das meninas e ele falou que não conhecia aquelas crianças, que não tem filhos, não tem ex-mulher e não esteve em Taquarituba. A última lembrança que ele tinha era de que estava trabalhando na roça", explica a delegada.
Relação com a ex-mulher
De acordo com a Polícia Civil, os pais das meninas são separados, mas o homem havia passado a noite de segunda-feira (23) na casa da ex-companheira, no Jardim Santa Rita.
Já na manhã de terça (24), a mulher saiu para trabalhar e uma das filhas dela, enteada do suspeito, foi à escola. Segundo a PM, as duas crianças mais novas ficariam com uma babá, mas o pai das meninas dispensou a cuidadora e passou a manter as filhas em cárcere privado.
Segundo a delegada, antes de cometer o crime, Natanael chegou a pedir para que a ex-mulher não fosse trabalhar. Por isso, a polícia investiga se o homem também planejava matar a mãe das crianças.
Conforme a Polícia Civil, Natanael tinha passagem por uma violência doméstica cometida contra a ex-mulher em Chavantes em 2017. Apesar do registro, o casal continuou junto e estava separado há apenas nove meses.
A polícia afirmou ainda que Natanael já estava casado com outra mulher e não tinha mais vínculo amoroso com a mãe das vítimas.
No dia anterior ao crime, o homem chegou a tentar reatar o relacionamento com a ex-mulher, mas a polícia disse que a conversa foi amigável e que, no geral, o pai mantinha um bom relacionamento com a família.
"As crianças tinham muito afeto por ele. Inclusive uma tia falou pra gente que, na segunda-feira, quando ele estava na casa das crianças, a 'menorzinha' ficava no colo dele o tempo todo. Era uma relação bem afetuosa, não esboçava comportamento violento com as crianças", relata.
Comoção na cidade
A morte das meninas Natáli Heloá e Natanaeli Vitória chocou os moradores de Taquarituba, cidade no interior de São Paulo que tem 23 mil habitantes.
A escola onde as crianças estudavam suspendeu as aulas nesta quarta-feira (25) e moradores encheram a fachada da casa onde ocorreu o crime com flores e bexigas brancas.
Nas redes sociais, vários moradores trocaram a foto de perfil em homenagem às vítimas, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de três dias.
Durante a retirada dos corpos das meninas da casa onde ocorreu o crime, vizinhos que estavam acompanhando a ocorrência fizeram orações.
A mãe das meninas também fez uma homenagem para as filhas no Facebook. Elas foram enterradas em Chavantes (SP).(Do G-1)