
Recentemente, li um artigo sobre perda de memória e envelhecimento no The New York Times. Esse é um assunto muito importante, porque como sabemos, a proporção de idosos no Brasil e no mundo como um todo, tem aumentado significativamente por muitos motivos, mas principalmente em razão da baixa natalidade e alta na expectativa de vida.
Tendemos a acreditar que a memória se deteriora com o envelhecimento, mas essa não é a opinião do Dr. Richard Restak, que é neurologista e professor clínico da Escola de Medicina e Saúde da Universidade George Washington. Para ele, o declínio cognitivo não é inevitável.
Autor de mais de 20 livros sobre a mente, o Dr. Restak tem décadas de experiência no tratamento de pacientes com dificuldades de memória. Em seu mais recente livro, “O Guia Completo da Memória: A Ciência do Fortalecimento da Mente” em tradução livre, ele apresenta estratégias para aprimorar a memória, incluindo exercícios mentais, hábitos de sono e alimentação adequada.
Citada obra ainda não está disponível em português, mas um outro livro do mesmo autor, cujo título é “Mente Saudavel, Mente Brilhante - O Que Fazer Para O Seu Cérebro Trabalhar Com O Maximo De Eficiência” está sendo vendido pela Amazon neste link: https://a.co/d/0isu7ws.
Contudo, a mais recente obra vai além dos métodos tradicionais e explora diferentes aspectos da memória, como sua relação com o pensamento criativo, os impactos da tecnologia e sua influência na construção da identidade. “O objetivo do livro é superar os problemas cotidianos da memória”, afirma.
Ele enfatiza, em especial, a memória de trabalho, que se situa entre a memória imediata e a de longo prazo e está relacionada à inteligência, à concentração e ao desempenho. De acordo com o Dr. Restak, esse é o tipo mais importante de memória e deve ser exercitado diariamente.
O neurocientista argumenta que o declínio da memória não é um processo inevitável. No livro, ele apresenta dez hábitos que podem levar à perda ou distorção da memória. Sete desses conceitos foram descritos inicialmente pelo psicólogo Daniel Lawrence Schacter, incluindo os “pecados de omissão”, como distração, e os “pecados de comissão”, como memórias distorcidas. Além desses, o Dr. Restak adicionou três novos fatores: distorção tecnológica, distração tecnológica e depressão.
Por fim, ele resume: “somos o que podemos lembrar”. A seguir, algumas de suas principais recomendações para fortalecer a memória.
Muitos lapsos de memória são, na verdade, falhas de atenção. Por exemplo, esquecer o nome de alguém em um evento pode ocorrer porque você estava distraído conversando com outras pessoas no momento.
Para melhorar a retenção de novas informações, ele sugere associá-las a imagens mentais. Se precisar memorizar um nome, por exemplo, visualize um objeto ou cena relacionada a ele. Ele conta que, ao precisar memorizar o nome de um médico chamado Dr. King, imaginou um médico vestindo um jaleco branco, usando uma coroa e segurando um cetro em vez de um estetoscópio.
Inserir desafios de memória na rotina pode fortalecer essa habilidade. O Dr. Restak sugere, por exemplo, memorizar uma lista de compras antes de ir ao supermercado e tentar lembrar dos itens sem consultar a lista imediatamente, ou cozinhar sem olhar a receita a cada passo.
Além disso, de vez em quando, tente dirigir sem o auxílio do GPS e navegue apenas com base na memória. Um estudo de 2020 indicou que pessoas que usam GPS frequentemente podem apresentar um declínio cognitivo mais acelerado na memória espacial.
Jogos como xadrez e bridge são excelentes para a memória, mas há opções mais simples e igualmente eficazes. Um dos jogos favoritos do Dr. Restak para treinar a memória de trabalho é 20 perguntas, no qual um participante pensa em uma pessoa, lugar ou objeto, e o outro deve fazer até 20 perguntas de “sim” ou “não” para adivinhar a resposta. Esse exercício exige que o jogador mantenha todas as respostas anteriores em mente.
Tentar ordenar pessoas, características e cargos, também é uma boa opção. Um exemplo seria citar todos os Presidentes da República desde a redemocratização, seus partidos e seus principais feitos.
Um possível sinal precoce de problemas de memória, segundo o Dr. Restak, é a preferência crescente por leituras de não ficção em detrimento da ficção. “As pessoas que começam a ter dificuldades de memória tendem a evitar romances”, observa ele.
Isso ocorre porque a leitura de ficção exige um acompanhamento contínuo da história, lembrando detalhes sobre os personagens e os eventos ao longo do enredo.
Dois dos “pecados da memória” descritos pelo Dr. Restak estão relacionados ao uso da tecnologia.
O primeiro é a distorção tecnológica, que ocorre quando as pessoas confiam tanto nos dispositivos eletrônicos que deixam de exercitar a memória. “Se tudo está armazenado no seu telefone, você realmente não sabe”, alerta.
O segundo problema é a distração tecnológica, que prejudica a atenção e a capacidade de formar novas memórias. “Nos dias de hoje, o maior impedimento da memória é a distração”, afirma Restak. Muitas pessoas checam e-mails enquanto assistem a um filme, conversam ou até caminham na rua, o que compromete a capacidade de focar no presente – um fator essencial para a retenção de informações.
O estado emocional influencia diretamente a memória. A depressão, por exemplo, pode afetar gravemente a capacidade de lembrar informações.
Isso acontece porque o hipocampo, responsável pela formação da memória, e a amígdala, ligada às emoções, estão interligados. O tratamento da depressão pode ajudar a restaurar a função da memória.
Ao longo de sua carreira, o Dr. Restak foi frequentemente questionado sobre quais lapsos de memória são normais e quais podem indicar um problema mais sério. Ele ressalta que o contexto é essencial para fazer essa distinção.
Esquecer onde estacionou o carro em um estacionamento lotado é algo comum. Já esquecer como chegou até o estacionamento pode ser um sinal de alerta. Da mesma forma, não lembrar o número do quarto de hotel é normal, mas esquecer o endereço de casa pode indicar um problema mais grave.
De todo modo, se você acredita que está sofrendo um declínio neurológico, é fundamental procurar um médico o quanto antes, para iniciar um eventual tratamento o quanto antes, pois a doença tende a se agravar com o tempo.
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