Essa semana, almoçando com a minha Madrinha Ursula, estávamos conversando sobre o escritor norte-americano Ernest Hemingway e sua vasta e premiada obra literária.
Foi nesse contexto que chegamos na seguinte polêmica: Ele era comunista e/ou simpatizante da esquerda? E a resposta curta é um sonoro “não”.
Mas esse artigo não acaba aqui, porque a resposta longa a essa simples, mas fundamental pergunta, é muito interessante.
Como sabido, a Esquerda tem dificuldade em lidar com pensamentos divergentes. Fidel Castro, Joseph Stalin, Nicolás Maduro e tantos outros, não me deixam mentir.
E, quando um fato ou pessoa diverge do que os esquerdistas acreditam, eles optam por adotar uma das duas possibilidades: Exterminar a ideia e/ou a pessoa ou adultera a realidade, para que ela melhor lhe convenha.
Tentaram, sem sucesso, fazer isso com muita gente, dentre eles, Winston Churchill, Raul Seixas e, é claro, Ernest Hemingway.
No caso do ganhador do Prêmio Pulitzer de Ficção de 1953 e do Prêmio Nobel de Literatura de 1954, a esquerda se apega a dois detalhes de sua vida: 1) Ele morou em Cuba por 23 anos e 2) O FBI suspeitava que ele era comunista.
Mas vamos aos fatos. Primeiro, que Hemingway mudou-se para Cuba com a família, porque percebeu que a Europa estava em vias de entrar em Guerra. O conflito? A Segunda Guerra Mundial. Segundo que tal mudança se deu porque o Escritor era ávido pescador esportivo, e terceiro que a Ilha, antes de mais nada, é um paraíso na Terra, geograficamente falando. Por fim, é de se dizer que o Regime Ditatorial de Fidel Castro só viria a tomar o poder em 1959, bem depois do período em que Ernest era frequentador da Ilha. Nunca é demais lembrar que Hemingway morreu três anos depois, em 1961, na cidade de Ketchum, localizada no estado americano de Idaho, no Condado de Blaine.
No mais, o FBI suspeitava que tanta gente era comunista, que a coisa gerou verdadeira paranoia nacional.
A agência suspeitou de Marilyn Monroe, Charlie Chaplin, Aretha Franklin e até mesmo Walt Disney, dentre muitos (mesmo!) outros.
É preciso contextualizar: Nos anos 1930 até a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, a moda era derrubar os regimes de esquerda, como a Rússia de Stalin. Isso acabou culminando na chamada Guerra Fria, período de tensão geopolítica entre a União Soviética e os Estados Unidos e seus respectivos aliados, o Bloco Oriental e o Bloco Ocidental, após a Segunda Guerra Mundial.
Acredito que a tensão do período pode ser condensada num discurso de Sir Winston Churchill, o qual foi realizado no Westminster College, em Fulton, Missouri, Estados Unidos, no dia 5 de março de 1946.
No referido discurso, Churchill afirma que “uma cortina de ferro desceu sobre a Europa”, em uma clara referência ao bloco socialista, que se estabeleceu no continente após a Segunda Guerra Mundial.
Esse bloco formou-se à medida em que as tropas soviéticas foram avançando no continente europeu. Esse avanço se deu durante a luta contra o nazismo, e, à medida que os territórios eram “liberados” pelos soviéticos, tornavam-se meros Estados-Fantoche de Moscou. Com o final da guerra, essas regiões se transformaram em parte do bloco socialista.
Mas, voltando ao assunto, a verdade é que, sobre Hemingway ser comunista, o FBI estava errado. O Escritor, em verdade, montou uma rede de informantes com a finalidade de fornecer, ao governo dos Estados Unidos, informações sobre os espanhóis simpatizantes do fascismo na ilha.
Também patrulhava o litoral de Cuba a bordo de seu famoso iate de nome “Pilar”, buscando possíveis submarinos alemães durante a Segunda Guerra Mundial.
Cobrindo a Guerra Civil Espanhola para o North American Newspaper Alliance, se aliou às forças republicanas contra o fascismo (de verdade, não a palhaçada deturpada de hoje), o que viria a ser o tema da sua obra-prima, “Por Quem os Sinos Dobram”, publicado em 1940.
Hemingway não era comunista. Ele caçava comunistas!
Ademais, ele adorava o boxe, a caça, a pesca e as touradas, todos esportes viris e notoriamente não praticado pelos simpatizantes da Esquerda.
Hemingway participou de três diferentes guerras (inclusive da Primeira e da Segunda Guerra Mundial), das quais retornou como um herói.
Inclusive, aqui cabe um parênteses interessante:
Apesar de ser muito jovem quando a Primeira Guerra Mundial estourou, em 1914, decidiu ir à Europa pela primeira vez. Tentou alistar-se no Exército, mas foi recusado por ter problemas de visão. Mas como estava realmente com vontade de participar do conflito, conseguiu uma vaga de motorista de ambulância na Cruz Vermelha e atuou na Itália. Atingido por uma bomba, voltou para casa, mas ali a vida havia se tornando monótona demais para ele, que estava sempre em busca de aventura e confusão.
Nesse sentido, alguns anos depois, em 1944, pousou em Londres para cobrir a Segunda Guerra Mundial, mas sofreu um acidente de carro, no qual ganhou uma concussão. Por isso, cobriu os desembarques das Tropas Aliadas no Dia D, com a cabeça envolta de faixas.
Após, acompanhou a Resistência Francesa atuando clandestinamente em território do Exército Alemão, oferecendo tantos conselhos bons que se tornou, na prática, líder do grupo. Em razão disso, quase foi processado de acordo com a Convenção de Genebra, a qual proíbe que um jornalista exerça atividades militares.
Com o fim das Guerras em seus dias, Hemingway passou a explorar o continente africano, onde participou de numerosos safáris, local onde escreveu parte de sua Obra, passando a adotar um estilo fundamentado em frases breves e contundentes, como socos numa luta de boxe.
Também, quase me esqueci de dizer, sobreviveu a dois acidentes de avião. Esses episódios foram tão interessantes, que valem uma coluna só para contá-los, mas esse dia não é hoje!
Ernest Miller Hemingway, assim como todos nós, não era perfeito: Alcoólatra, suicida, briguento, mulherengo, mau pai, destruidor de lares e grande fã de uma boa escaramuça, certamente não era um cara fácil de se conviver... Mas não era comunista, o que já é uma grande coisa!
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