No último mês de junho, uma romancista chinesa, que escrevia uma obra sob o pseudônimo “Mitu” já havia escrito 1 milhão de palavras no WPS, a versão de um editor de texto armazenado na nuvem, mais ou menos parecido com o Google Docs, quando teve todo o seu trabalho perdido após a plataforma ter-lhe negado acesso ao arquivo alegando que o mesmo continha “conteúdo ilegal”.
Cerca de um mês depois, a notícia começou a repercutir nas redes sociais chinesas, quando alguns influenciadores tomaram conhecimento do caso.
A história mexeu tanto com os internautas locais que a publicação chinesa The Economic Observer confirmou que vários outros romancistas tiveram seus escritos bloqueados por motivos banais.
Para a maior parte dos internautas, esse é apenas mais um caso de censura praticado pelas plataformas de tecnologia em nome do governo chinês.
A Kingsoft, dona do programa que bloqueou o texto de “Mitu” esclareceu que o software não censura arquivos armazenados localmente, mas não explicou o que aconteceu.
Entretanto, um trecho do comunicado da empresa é bem esclarecedor: “Todas as plataformas que fornecem serviços de informações on-line são responsáveis por revisar o conteúdo que está sendo divulgado em suas plataformas”, citando a Lei de Segurança Cibernética da China.
Sim, por lá o Governo já faz a “regulamentação dos meios de comunicação”, tanto que plataformas ocidentais como Twitter, Instagram e WhatsApp são proibidas.
Um usuário da Weibo, rede social chinesa equivalente ao Twitter lançou uma hipótese: “Sincronizar e armazená-lo na nuvem não acionará as avaliações. Apenas a criação de um link de compartilhamento para o documento aciona o mecanismo de revisão”.
Naturalmente, os especialistas ocidentais não puderam conferir se a hipótese está correta ante a total falta de transparência chinesa para com seus assuntos, mas ela se encaixa com o que disse “Mitu”, que teve o seu texto bloqueado após criar um link de compartilhamento do arquivo, para que seu editor pudesse acessá-lo.