Recentemente a minha sexta cadeira de rodas chegou. Por causa da natureza da minha deficiência, todas tiveram que ser elétricas.
A primeira eu literalmente transformei num ferro velho por vários motivos, sendo o principal deles a minha falta de noção, algo muito característico em crianças.
Depois as coisas foram evoluindo – tanto para mim quanto para a Freedom, a maior fabricante de cadeiras de rodas elétricas do Brasil. Tanto é verdade que a minha última cadeira foi promovida para a reserva totalmente operacional.
Troquei de cadeira por diversos motivos, sendo o principal deles, conforto. Quando você passa algo como de 12 a 18 horas por dia sentado, isso faz total diferença na sua saúde e qualidade de vida.
Outra boa razão para a troca de cadeiras ter ocorrido agora, foi que ter um meio de locomoção reserva e operacional é fundamental. Não dá para ser um deficiente ativo e chefe de família, contando com somente uma cadeira.
Talvez você esteja se perguntando nesse dado momento, se vale a pena comprar uma cadeira de rodas elétrica para você ou algum parente, e se elas são muito caras. As respostas curtas são: Sim e sim.
Mas vamos esmiuçar o assunto: Se a pessoa que vai utilizar a cadeira tem as suas faculdades mentais em ordem, existe uma cadeira que ela possa pilotar. O controle geralmente fica nas mãos da pessoa, mas pode ser instalado nos pés ou no queixo.
Se ela não tem as suas capacidades mentais em ordem, o controle pode ser afixado na parte traseira da cadeira, para que o acompanhante a pilote.
Mas e o preço? Assim como tudo no Brasil, cadeiras de rodas elétricas são caras, infelizmente. E a manutenção também é uma verdadeira facada. Mas hoje, ao menos, existem créditos para a aquisição de produtos de saúde, que as pessoas pagam juros praticamente irrisórios e podem dividir o montante em até sessenta vezes, então quase todo mundo pode ter.
Outra pergunta que sempre me fazem: Dirigir a cadeira é difícil? Eu sempre respondo que sim, mas que é mais fácil do que andar. A real é que nos primeiros dias você irá esbarrar pelas coisas, travar em subidas e patinar em descidas, mas não há nada que a necessidade e o tempo não resolvam.
Eu poderia terminar essa coluna aqui, mas sinto que tenho o dever moral de levantar uma polêmica em prol das pessoas deficientes e que não dispõem dos meios de que eu disponho, para serem ouvidas: Por favor, não seja a pessoa que esboça qualquer traço de pena de quem está numa cadeira de rodas.
Cadeiras não são prisões. Cadeiras não são castigos. Cadeiras não são reparações de vidas passadas e nem mesmo karma. Cadeiras são somente veículos desenvolvidos para que pessoas como eu, possam ter uma vida plena e satisfeita.
Então, olhar para os cadeirantes com pena não vai ajudar. Mas pode deixar aquela pessoa – que já enfrenta uma batalha grande em sua vida – ainda mais para baixo.
Se você quer realmente nos ajudar, lute por uma sociedade mais igualitária, inclusiva e nos convide para todos os tipos de rolês que vocês puderem inventar. Porque antes de ser um “cadeirante”, somos seres humanos com necessidades, anseios e vontades, assim como você.