O Brasil está em guerra e estamos perdendo. Não disparamos um tiro sequer, e contra nós nada explodiu (ainda).
Entretanto, a guerra existe e já causou vários danos. Tudo se passa no mundo cibernético, mas tem repercussão nas nossas vidas. E não é pouco.
No início do mês o Superior Tribunal de Justiça, o segundo mais importante Tribunal do Brasil, hierarquicamente falando, foi atacado. A atividade criminosa gerou a interrupção de diversos julgamentos que ocorriam remotamente em razão da COVID-19, o que causou a suspensão dos prazos processuais, tornando ainda mais lento e ineficiente um Poder Judiciário que é especialista em ser ineficaz.
Mas a coisa fica ainda pior, pois os hackers conseguiram fazer cópia de 255 mil processos, os quais poderão ter seus dados sigilosos expostos na Internet a qualquer momento. Essa é, inclusive, a maior preocupação do Tribunal, uma vez que eles mantinham backup de tudo o que foi roubado, então não foi difícil fazer tudo ficar disponível novamente para as partes envolvidas nas Lides.
Mas não é só. Na avaliação de entendidos do assunto, existe um "risco elevado" de o ataque hacker ter conseguido cópias de documentos contendo informações sigilosas dos servidores do Tribunal.
Na última sexta-feira, 27, foi a vez dos sistemas do Tribunal Regional da Primeira Região serem atacados. Assim como no caso anterior, os Invasores pegaram arquivos em mais de 40 bases de dados da Corte, cuja jurisdição abrange 13 Estados e o Distrito Federal, sendo o que abriga mais processos no País.
Até aqui, tudo leva a crer que o objetivo dos Criminosos seja o lucro, pois o vírus utilizado para as invasões é do tipo ransomware, que restringe o acesso ao sistema infectado se valendo de criptografia, cuja elaborada senha só é entregue para a vítima mediante pagamento em dinheiro.
A primeira notícia de que esse tipo de ataque tenha ocorrido foi em 2005, nos Estados Unidos.
Mas o mesmo não se pode dizer do ataque aos servidores do Tribunal Superior Eleitoral no dia do Primeiro Turno das Eleições 2020, o que gerou atraso na divulgação dos resultados e, consequente queda na confiança da população sobre a fidelidade de seu resultado.
Aparentemente podemos dizer que o resultado das urnas - e a consequente vontade popular - foram preservados, até porque o nosso sistema de votação não é interligado durante o voto e muito menos conectado na Rede Mundial de Computadores, o que só acontece na hora da apuração, que também é impressa em papel, só para garantir.
Mas até quando será assim? Nossas urnas são seguras? Sim. Mas são infalíveis? Provavelmente não. Vamos realmente esperar as coisas darem errado para agir? Vamos deixar que meia dúzia de nerds do mal prejudiquem a credibilidade das nossas votações e coloquem em risco a nossa Democracia?
Aparentemente não, pois a Polícia Federal, em parceria com a Polícia Judiciária Portuguesa prendeu no dia 28, em Portugal, o suspeito de ter liderado o ataque ao TSE.
Segundo as autoridades, um grupo de hackers brasileiros e portugueses, liderados pelo Português em questão, foi responsável pelos ataques criminosos aos sistemas do TSE no primeiro turno das eleições de 2020.
Certamente esse é um passo importante para a solução desse tipo de problema, mas está longe de ser o último. A verdade é que os Governos Federal, Estaduais e Municipais precisam acompanhar a iniciativa privada e criarem meios de se protegerem desse tipo de situação.
Em menos de 30 dias, os órgãos públicos sofreram quatro ataques. Além dos aqui narrados o Ministério da Saúde também foi vítima, quando sites da Pasta foram desfigurados, o que fez com que dados sobre novos casos de covid-19 deixassem de ser computados e, consequentemente, notificados.
As autoridades precisam compreender que o inimigo agora é outro.