O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), 46, derrotou o ex-ministro de Bolsonaro Rogério Marinho (PL-RN) e foi reeleito nesta quarta-feira (1º) para mais dois anos de mandato.
O vencedor obteve 49 votos ante 32 do adversário.
O resultado da eleição na Casa representa uma segunda derrota do bolsonarismo e dá mais uma demonstração de força do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) um mês após o início do seu mandato.
O terceiro candidato, Eduardo Girão (Podemos-CE), desistiu de concorrer em favor de Marinho pouco antes do início da eleição.
Logo após o anúncio do resultado, o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) telefonou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e depois passou o aparelho para o senador mineiro, que estava ao seu lado.
Lula parabenizou Pacheco, manifestou disposição em trabalharem juntos e depois os dois combinaram de conversar futuramente.
O presidente do Senado contou com o apoio dos partidos que estão na base de Lula e conseguiu barrar traições com a negociação de espaços em comissões, na Mesa Diretora e em cargos de segundo e terceiro escalão do governo federal.
O governo montou um balcão de negociações para evitar a derrota de Pacheco, e colocou os ministros em campo para negociar demandas.
Alvo de críticas entre os colegas por ter agido em uma espécie de coordenador de campanha do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) passou os momentos anteriores à votação percorrendo o plenário e cumprimentando efusivamente os senadores.
Além do PSD, Pacheco recebeu o apoio formal do MDB, do PT, do PSB, do PDT e da Rede. Já o bolsonarista Rogério Marinho formou um bloco com PL, PP e Republicanos. Conquistou ainda o voto de integrantes do PSDB.
Antes da votação, Pacheco discursou e defendeu sua gestão à frente do Senado. Ele disse que não cedeu para a prática da "chantagem". Também afirmou que garantiu a independência do Senado em relação aos demais Poderes, combatendo a ideia de que a Casa permitiu a hipertrofia do Judiciário —bandeira de Marinho.
Em um recado ao bolsonarismo, afirmou que manteve uma relação colaborativa com o governo federal, aprovando medidas de grande impacto, inclusive no período pré-eleitoral, quando Jair Bolsonaro (PL) buscou a reeleição. Citou como por exemplo o aumento do valor Auxílio Brasil e a proposta para reduzir o preço dos combustíveis.
Em resposta às críticas de bolsonaristas, Pacheco prometeu ainda impor limites aos demais Poderes, em particular ao Judiciário.
"Afirmo e devo dizer que, diferentemente do que sustentam sobre revanchismo, retaliação, de possível enquadramento do Poder Judiciário, que dá a palavra final aos conflitos sociais e jurídicos, nós devemos cumprir nosso papel verdadeiro: de solucionar nossos problemas através da nossa capacidade de legislar. Vamos legislar para colocar limites aos Poderes", afirmou.
Com a previsível vitória de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara dos Deputados, a eleição do Senado ganhou ares de terceiro turno. Bolsonaristas fizeram campanha contra Pacheco nas redes sociais, tentaram associá-lo a Lula e levaram cartazes com a frase "Pacheco não" para a posse dos deputados eleitos.
Lula chegou a afirmar que o governo não iria interferir na disputa, mas, na prática, ministros de Estado entraram em campanha por Pacheco e estiveram em peso na sessão desta quarta.
Pacheco chegou à presidência do Senado dois anos atrás com o apoio de Bolsonaro depois que o então presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil -AP), foi impedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) de disputar a reeleição.
Em 2021, quando venceu a presidência contra a então senadora Simone Tebet (MDB-MS), hoje ministra do Planejamento de Lula, Pacheco recebeu 57 votos; Tebet teve 21.
Ao longo do mandato, no entanto, o senador do PSD se afastou do ex-presidente da República e comprou briga com o Palácio do Planalto quando resolveu rejeitar um pedido de impeachment contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Na disputa contra Marinho, Pacheco se colocou como o candidato capaz de defender a democracia e barrar a ofensiva bolsonarista contra o Supremo —sobretudo após a invasão e o ataque às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro.
Por outro lado, bolsonarismo se agarrou à possibilidade de eleger Marinho e assim manter o movimento em evidência. Bolsonaro, a partir dos Estados Unidos, ligou e mandou mensagens para tentar virar votos em favor de seu aliado.
Seu filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que sempre manteve uma relação cordial com Pacheco, passou os últimos dias disparando críticas contra o presidente do Senado. Flávio chegou a dizer que Pacheco não teve "capacidade de buscar a pacificação" e também era responsável pela intentona de 8 de janeiro.
Em 2021, Pacheco chegou ao cargo mais alto do Senado com apenas dois anos de atuação como senador e seis de vida política. Na Câmara, o mineiro ganhou protagonismo ao se tornar presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), a mais importante da Casa.
Neste ano, o senador era o grande favorito para ser reconduzido à presidência do Senado, pois vinha de uma gestão elogiada por muitos senadores e controlava a distribuição das chamadas emendas de relator-geral do orçamento.
Pacheco também contou com a articulação de Alcolumbre. No entanto, as ações do ex-presidente —como a negociação das comissões e vagas na mesa diretora— irritaram e despertaram ciúmes entre parlamentares, a ponto de aliados do senador mineiro anunciarem o desembarque de sua campanha.
Os senadores do próprio partido de Pacheco Nelsinho Trad (PSD-MS), Lucas Barreto (PSD-AP) e Doutor Samuel Araújo (PSD-RO) convocaram uma entrevista no dia anterior à eleição para anunciar o voto em Marinho.(Da Folha de SP)