Todas as gerações da humanidade reclamam dos jovens: “Eles não respeitam mais nada e não estudam como nós fazíamos!” Vão além: “Não haverá futuro com eles!” Você já usou alguma frase similar? Envelheceu!
Questões básicas: a) idealizamos o passado e nós nele (dizendo que “no meu tempo, tudo era melhor”); b) lamentamos nossa submissão a sistemas totalitários na juventude; hoje, quando poderíamos exercer poder, não conseguimos fazê-lo; c) adoraríamos que o mundo se encerrasse conosco; afinal, haveria exercício narcísico mais sofisticado?
Eu tinha de obedecer a muitos, de forma rápida. Pais, professores, pessoas mais velhas: minha posição na pirâmide alimentar do poder era um porão profundo. Houve injustiças e autoritarismos. Quem vê os jovens sem essa noção de hierarquia fica triste e diz: “Então é possível ter vontade antes dos 18 anos?”
“Alguém pode escolher comida? Eu não podia!” – reclama. “Precisei ir a todos os enterros da família. Seria viável dizer não?”
Parece que minhas dores funcionam como as de um calouro humilhado por veteranos: “Está muito ruim agora. Porém, no próximo ano, exercerei meu poder sobre os novatos”. A perspectiva de se vingar na próxima geração deveria diminuir a dor.
Nossas críticas são feitas no espelho do que imaginamos que somos e daquilo que os outros podem ser. Nada dizemos, de fato, sobre os jovens. Elaboramos sempre o julgamento do que se imagina que tenha sido a juventude. Dela se extraem as lições necessárias para construir o que seria uma pessoa de caráter. Exemplo biográfico: imerso no ambiente germânico gaúcho, nunca tive dificuldades com chefes autoritários (tive tantos). Vendo hoje a reclamação de alguns jovens professores, com quaisquer críticas, tendo a supor que existe um excesso de sensibilidade e que a atual geração é tomada por um “mi-mi-mi” de hipersensibilidade. Poderiam dizer que, na verdade, eu estou anestesiado para o autoritarismo, em virtude da minha formação. Assim, o problema não estaria no excesso de sensibilidade do jovem professor, mas na couraça do velho.
O ciclo parece eterno. Sofremos na nossa geração. A seguinte aparenta ser mais livre e, como tal, seria mais alienada? O mundo deve ter declinado, porque se perde a juventude? Difícil separar os dias de hoje da presbiopia real.
Não nos preocupemos! Num dia, os tiktokers procriarão. Terão filhos! Envelhecerão.
E... em um fim de tarde, olharão para seus rebentos: “No meu tempo, a gente conseguia ficar olhando um vídeo durante quinze segundos inteiros!”
Não perca a esperança! Vai piorar!
*Por Leandro Karnal