Uma ONG, que segundo a Polícia de São Paulo presta contas de suas ações ao Primeiro Comando da Capital, o PCC, participou de reuniões com dirigentes dos ministérios da Justiça e dos Direitos Humanos no governo Lula (PT), além de audiência pública no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A última atividade com o MJ foi em dezembro de 2024, e a pasta pagou as passagens aéreas para Brasília.
A ONG Pacto Social & Carcerário S.P foi desmantelada pela operação “Fake Scream” (“Falso grito”), deflagrada pela Polícia Civil de São Paulo (PCSP) e pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP) na semana passada. Segundo a investigação da Polícia Civil, a ONG está ligada à cúpula do PCC desde a fundação e presta contas à facção de todas as suas atividades.
Procurados, os ministérios da Justiça e dos Direitos Humanos confirmaram as reuniões. Segundo as pastas, a ONG foi chamada para discutir políticas para presidiários e problemas na qualidade da alimentação no presídio federal da Papuda, em Brasília. O CNJ disse que o evento foi “aberto a toda a sociedade”, e em local aberto a “qualquer cidadão”. A ONG também foi procurada, mas não respondeu aos contatos da reportagem.
A ONG Pacto Social e Carcerário era sediada em São Bernardo do Campo (SP). Foi criada em 2019. Era presidida pela auxiliar administrativa Luciene Neves Ferreira, de 46 anos, e tinha como vice-presidente o marido dela, Geraldo Sales da Costa, de 55 anos. Ex-presidiário, ele foi condenado por homicídio e corrupção ativa. Criado no começo dos anos 1990, o PCC teve origem em reivindicações de presos por melhores condições no cárcere, depois do massacre do Carandiru, em São Paulo, em 1992.
A ligação da ONG com o PCC começou a ser investigada em setembro de 2021, depois que policiais apreenderam um bilhete com informações sobre os trabalhos da entidade. O texto estava num cartão de memória pertencente à namorada de um faccionado. Ela foi presa ao tentar entrar com o material e com drogas ilícitas na Penitenciária II de Presidente Venceslau (SP). Dirigentes da ONG foram entrevistados num documentário de 2024 chamado “O Grito”, sobre o regime disciplinar diferenciado (o RDD) usado em prisões federais. O nome da operação “Fake Scream” faz alusão ao filme.(Reportagem do Jornal O Estado de SP)