• O que se sabe sobre o HMPV, o vírus que está se espalhando na China

    273 Jornal A Bigorna 07/01/2025 17:50:00

    Relatos de um aumento nos casos de um vírus respiratório na China trazem lembranças sombrias do início da pandemia da covid-19, ocorrida há quase exatamente cinco anos. No entanto, apesar das semelhanças superficiais, essa situação é muito diferente e bem menos preocupante, afirmam médicos.

    Os casos na China parecem estar relacionados a infecções pelo metapneumovírus humano, conhecido pelos médicos como HMPV. Aqui está o que sabemos:

    O que é HMPV?

    O HMPV é um dos vários patógenos que circulam anualmente em todo o mundo, causando doenças respiratórias. Ele é bastante comum — a maioria das pessoas será infectada ainda na infância e pode ter várias infecções ao longo da vida.

    Em países com meses de clima frio, o HMPV pode apresentar uma temporada anual, semelhante à gripe. Já em locais próximos ao Equador, ele circula em níveis mais baixos durante todo o ano.

    O HMPV é semelhante a um vírus mais conhecido nos Estados Unidos (e também no Brasil), o vírus sincicial respiratório (VSR). Ambos causam sintomas parecidos com os da gripe e da covid, como tosse, febre, congestão nasal e chiado no peito.

    A maioria das infecções por HMPV é leve, lembrando resfriados comuns. No entanto, casos graves podem resultar em bronquite ou pneumonia, especialmente em bebês, idosos e pessoas imunocomprometidas. Indivíduos com doenças pulmonares preexistentes, como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou enfisema, estão em maior risco de complicações graves.

    Em países de alta renda, o vírus raramente é fatal. Já em países de baixa renda, com sistemas de saúde frágeis e vigilância limitada, as mortes são mais comuns.

    Há quanto tempo esse vírus existe?

    O vírus foi identificado em 2001, mas pesquisadores afirmam que ele circula entre humanos há pelo menos 60 anos. Apesar de não ser novo, o HMPV não tem o mesmo reconhecimento pelo nome como a gripe, a covid-19 ou mesmo o VSR, explica Leigh Howard, professora associada de doenças infecciosas pediátricas no Vanderbilt University Medical Center.

    Uma das razões para isso é que o HMPV raramente é mencionado pelo nome, exceto em casos confirmados que levam à hospitalização.

    “As características clínicas são muito difíceis de distinguir de outras doenças virais, e não testamos rotineiramente para o HMPV como fazemos para covid, gripe ou VSR”, comenta Leigh. “Por isso, a maioria das infecções não é reconhecida e acaba atribuída a algum outro problema respiratório que esteja circulando.”

    Como uma pessoa é infectada pelo HMPV?

    O vírus se espalha principalmente por gotículas ou aerossóis liberados ao tossir ou espirrar, por contato direto com uma pessoa infectada ou por exposição a superfícies contaminadas — basicamente da mesma forma que os resfriados, a gripe e a covid-19 são transmitidos.

    Existe uma vacina ou tratamento?

    Não há vacina contra o HMPV. No entanto, já existe uma vacina para o VSR, e pesquisas estão em andamento para desenvolver uma vacina que possa proteger contra ambos os vírus com uma única dose, dado que são semelhantes.

    Também não há tratamento antiviral específico para o HMPV; o manejo se concentra no alívio dos sintomas.

    O que a China está dizendo sobre isso?

    As autoridades chinesas reconheceram o aumento nos casos de HMPV, mas enfatizaram que o vírus é conhecido e não representa uma grande preocupação. O coronavírus que causa a covid-19 era um patógeno novo, então o sistema imunológico das pessoas não tinham defesas contra ele.

    Em uma coletiva de imprensa realizada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China em 27 de dezembro, Kan Biao, diretor do Instituto de Doenças Infecciosas do centro, afirmou que os casos de HMPV estavam aumentando entre crianças de 14 anos ou menos, especialmente no norte do país. Ele também relatou um aumento nos casos de gripe.

    Kan alertou que os casos podem aumentar durante o feriado do Ano Novo Lunar, no final de janeiro, período em que muitas pessoas viajam e se reúnem em grandes grupos.

    No entanto, ele afirmou que, “julgando pela situação atual, a escala e a intensidade da disseminação de doenças respiratórias infecciosas este ano serão menores do que as do ano passado”.

    Dados oficiais chineses mostram que os casos de HMPV vêm aumentando desde meados de dezembro, tanto em atendimentos ambulatoriais quanto em emergências, de acordo com a Xinhua, agência estatal de notícias.

    Em um briefing de rotina com a imprensa, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores reiterou que casos de gripe e outros vírus respiratórios normalmente aumentam nesta época do ano, mas que “parecem ser menos graves e se espalharem em menor escala em comparação ao ano anterior”.

    As autoridades chinesas anunciaram que estabeleceriam um sistema de monitoramento para pneumonia de origem desconhecida. O sistema incluirá procedimentos para laboratórios relatarem casos e para agências de controle e prevenção de doenças verificarem e gerenciarem esses casos, segundo a emissora estatal CCTV.

    O que a Organização Mundial da Saúde diz?

    A OMS não expressou preocupação. Margaret Harris, porta-voz da organização, citou relatórios semanais das autoridades chinesas que mostram um aumento previsível nos casos.

    “Como esperado para esta época do ano, no inverno do Hemisfério Norte, há um aumento mês a mês de infecções respiratórias agudas, incluindo gripe sazonal, VRS e metapneumovírus humano”, disse Margaret por e-mail.

    É preciso se preocupar?

    Os relatos vindos da China evocam os primeiros e confusos dias da pandemia de covid-19, e a OMS ainda pressiona a China a compartilhar mais informações sobre a origem daquele surto, cinco anos depois.

    No entanto, a situação atual é diferente em aspectos fundamentais. A covid-19 foi causada por um vírus que passou de animais para humanos e era desconhecido. Já o HMPV é bem estudado, e há ampla capacidade de testagem para ele. Existe imunidade populacional global contra o HMPV, ao contrário do que ocorreu com a covid-19. Embora uma temporada severa de HMPV possa sobrecarregar a capacidade hospitalar — especialmente em pediatria —, ela não costuma colapsar os centros médicos.

    “É essencial que a China compartilhe seus dados sobre este surto de forma oportuna”, afirma Sanjaya Senanayake, especialista em doenças infecciosas e professor associado de medicina na Australian National University. “Isso inclui dados epidemiológicos sobre quem está sendo infectado. Também precisaremos de dados genômicos confirmando que o HMPV é o causador e que não há mutações significativas que sejam motivo de preocupação.”( Por Stephanie Nolen /The New York Times)

     

     

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