• O que é “sharenting” e por que postar imagens dos filhos nas redes pode ser perigoso

    761 Jornal A Bigorna 21/07/2024 10:00:00

    O hábito de postar fotos e vídeos dos filhos nas redes sociais, conhecido como “sharenting”, que mistura as palavras em inglês para compartilhamento (sharing) e paternidade (parenting), tem sido questionado por educadores, grupos de defesa dos direitos das crianças e pela Justiça. Estados americanos já têm leis para compensar jovens cujos pais ganharam dinheiro com suas imagens durante a infância. Há também movimentos em vários países para garantir o direito de esse conteúdo ser apagado pelas plataformas digitais e para regras rígidas de proteção de crianças e adolescentes na internet.

    Mesmo para pais e mães que não têm milhões de seguidores, especialistas alertam que a exposição em seus perfis pode causar danos para a saúde mental e o desenvolvimento das crianças, além do risco de envolvê-las em violências e pedofilia.

    “Pais e mães têm direito de exercer sua parentalidade como quiserem. Podem entender a necessidade de compartilhar as imagens, mas é preciso lembrar que as crianças têm direito à privacidade e à intimidade. Elas não podem ser impactadas no futuro por escolhas que não foram delas”, diz a coordenadora do eixo digital do Instituto Alana, Maria Mello.

    Entre as consequências, pesquisadores falam do risco de a criança sofrer bullying ou cyberbullying quando chegar à adolescência, desenvolver ansiedade, depressão e distúrbios de distorção de imagem. E alertam para a possibilidade de a criança ter dificuldade de entender o limite da intimidade e de saber o que pode ser compartilhado ou não da sua vida pessoal, replicando o comportamento dos pais.

    Há a preocupação ainda com crianças expostas a situações vexatórias nas redes, registradas em momentos em que choram, fazem caretas ou falam palavrões - que algumas vezes viram memes.

    E o mais grave: casos em que o rosto da criança é usado para manipulação do corpo com o uso de inteligência artificial e compartilhado em redes de pedofilia. Especialistas no mundo todo também alertam para a atuação de pedófilos em perfis infantis, mesmo quando são administrados pelas mães.

    “É uma geração de famílias que necessita refletir sobre isso porque, mesmo sem intenção, elas estão expondo as crianças e podem causar prejuízos ao seu desenvolvimento”, afirma a doutora em Educação Thaís Bozza, pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem), que reúne especialistas de várias universidades.

    “Da mesma forma que os genitores protegem as crianças na rua, não as deixam sozinhas no centro de uma capital, não devem deixar a imagem dela perambulando no mundo virtual sem saber a consequência que isso pode causar”, completa Thaís. “Não dá para se arrepender na internet, uma vez postado, não tem controle, até no grupo da família, não dá para garantir que ninguém ‘printou’, compartilhou.”

    Há ainda o problema da comercialização das imagens dessas crianças e do trabalho infantil - no caso de influenciadores mirins - que deveriam ser fiscalizados, alerta o Instituto Alana. Se um vídeo tem muitas visualizações, os anunciantes se interessam, o que faz também com que a plataforma incentive mais imagens daquela criança.

    Pesquisa realizada pelo Pew Research Center, organização do terceiro setor americana que estuda mídia e tecnologia, mostra que vídeos com crianças têm três vezes mais visualizações do que outros tipos. Além disso, canais que produzem pelo menos um vídeo com uma criança têm uma média de 1,8 milhão de assinantes, em comparação com 1,2 milhão naqueles que não produzem.(do Estado de SP)

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