• Nossa democracia só sobreviveu graças a Alexandre de Moraes e às Forças Armadas

    819 Jornal A Bigorna 24/06/2023 00:50:00

    Por muito pouco nossa democracia não foi derrubada. Não seria preciso muito; apenas que alguns atores tomassem a decisão errada em alguns momentos decisivos. Um dos responsáveis por ainda termos uma democracia —ainda que falha— é Alexandre de Moraes, por suas ações no dia da eleição e no dia seguinte.

    Golpistas invadem a praça dos Três Poderes e depredam os prédios do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do STF (Supremo Tribunal Federal)

    A PRF realizou bloqueios seletivos nas rodovias que poderiam prejudicar os votos em Lula. Uma vez descoberto o esquema, Moraes rapidamente mandou que as rodovias fossem desbloqueadas, além de acalmar a opinião pública. Mas o risco não terminou aí: o PT entrou com um pedido para estender o horário da votação.

    Se Moraes tivesse permitido isso, cairíamos num lamaçal jurídico e institucional cujo resultado seria imprevisível. No dia seguinte ao pleito, foi Moraes mais uma vez quem ordenou que a PRF —agora tão passiva— desobstruísse as rodovias bloqueadas por caminhoneiros bolsonaristas que tentavam chantagear o país.

    Mas as ameaças à democracia não pararam aí. Com a derrota nas urnas, milhares de eleitores se organizaram para pedir golpe na frente dos quartéis. E agora sabemos, todo o entorno do ex-presidente passou a tramar intentonas golpistas.

    Com a revelação das conversas de WhatsApp de Mauro Cid com diversos assessores e militares, temos um elemento a mais. Segundo Cid, Bolsonaro sabia do plano golpista.

    Cobrado pelo coronel Jean Lawand Jr. de por que Bolsonaro não agia, dando a ordem às Forças Armadas, Cid responde: "Mas o PR não pode dar um ordem (sic)… se ele não confia no ACe [Alto Comando do Exército]". Ou seja, Bolsonaro só não dava o golpe porque temia que o Alto Comando do Exército não embarcaria na aventura.

    Na conversa entre os dois, Lawand ainda assegura Cid de que, se o Alto Comando não quisesse, certamente os oficiais de patentes mais baixas topariam. Mesmo sem as Forças Armadas, restava ainda a esperança de que "o povo" pudesse dar o golpe pelo presidente.

    Parece ter sido uma tentativa desesperada dessa última versão que vimos no dia 8 de janeiro. Alguns milhares de fanatizados invadiram os Três Poderes na esperança de que isso provocasse as Forças Armadas a entrar em cena e, finalmente, dar o tão sonhado golpe.

    Mas as Forças Armadas não se moveram. Sendo assim, simpatizando ou não com nossos generais, é preciso reconhecer que é também graças a eles que nossa democracia está de pé.

    Muito se especula quais os motivos que levaram os generais do Alto Comando do Exército a não embarcar no golpe. Por um lado, pode ser um real apreço pela democracia. Alternativamente, os generais podem não ter embarcado por puro comodismo.

    Participantes de peso da sociedade civil —empresários, advogados, banqueiros— já tinham deixado claro que respeitariam o resultado das urnas no evento no Largo São Francisco. O governo americano também já se manifestara da forma mais clara possível. A vida dos golpistas não seria fácil.

    Seja como for, se o Alto Comando topasse a parada —ao menos na versão relatada por Mauro Cid— nossa democracia teria caído. Não havia nada que ninguém mais pudesse fazer para impedi-los.

    Mesmo com esses percalços, estamos aqui. Nossa democracia sobreviveu. Aquela ameaça foi vencida. As lições que ficam são a fragilidade da democracia, sempre acossada por novas ameaças que precisam ser levadas a sério, e, espero, a determinação de varrer todos os que participaram, por palavras, atos e omissões, para bem longe da vida pública nacional.

    *Por Joel Pinheiro da Fonseca

    Economista, mestre em filosofia pela USP.

     

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