• Nitazeno: saiba mais sobre opioide 20 vezes mais potente do que fentanil

    712 Jornal A Bigorna 23/07/2024 14:30:00

    Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) identificaram pela primeira vez a presença de nitazeno, um opioide extremamente forte, em drogas sintéticas vendidas em São Paulo. A substância é descrita como até 20 vezes mais potente que o fentanil, um anestésico que, por sua vez, supera em 100 vezes a morfina, e em 50 vezes a heroína, por exemplo.

    Os cientistas, que trabalharam junto à polícia técnica-científica de São Paulo, descobriram que, de julho de 2022 a abril de 2023, um total de 140 amostras de ervas e pílulas apreendidas pela polícia continham um opioide, isolado ou misturado a outra substância. Dentre eles, 95% era nitazeno. Segundo o estudo, os canabinoides sintéticos, também chamados de drogas K, são as substâncias mais associadas aos opioides.

    A pesquisa aponta, ainda, que há dois anos tem sido observado um aumento consistente no número de apreensões de nitazeno, o que representa uma mudança no cenário brasileiro, cujos dados relacionados ao uso de opioides sempre foram baixos.

    Um estudo de 2021 feito por pesquisadores brasileiros do Centro de Pesquisa Aplicada em Saúde Mental e Dependência da Universidade Simon Fraser, no Canadá, concluiu que apenas 111 de todas as mortes relacionadas a substâncias psicoativas no Brasil estavam associadas a opioides entre 1998 e 2018. Isto é, apenas 0,08% do total.

    Por outro lado, as internações relacionadas ao uso de opioides no Sistema Único de Saúde (SUS) aumentaram nos últimos anos, conforme dados levantados pelo Ministério de Saúde a pedido do Estadão. No ano de 2023, foram registradas 1.934 hospitalizações. Nos anos anteriores foram: 1.676 em 2022, 1.242 em 2021, 958 em 2020, e 1.265 em 2019. Já segundo o relatório USP e da Unicamp, o aumento nas vendas de opioides prescritos e as apreensões de opioides sintéticos pela polícia de São Paulo levantam uma preocupação sobre o abuso dessas substâncias no País.

    Os baixos índices de abuso de opioides no Brasil podem ser atribuídos a uma combinação de fatores, incluindo uma legislação rigorosa que limita o acesso a esses medicamentos tanto para a população quanto para profissionais de saúde. Os médicos prescrevem os remédios apenas em casos extremamente necessários. Como resultado, a maioria dos pacientes é tratada com medicamentos não opioides, como dipirona e paracetamol.

    Por essa razão, os pesquisadores ficaram surpresos ao encontrar o nitazeno, o que acendeu um alerta importante. É o que relata José Luiz Costa, um dos autores da pesquisa e coordenador do Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Campinas (CIATox). “De um modo geral, o brasileiro e o latino-americano costumam buscar (drogas) estimulantes e não depressores do sistema nervoso central. Temos um perfil de abuso de drogas diferente da Europa e Estados Unidos. Isso nos faz pensar: de onde isso está vindo? Por que isso está sendo adicionado nessas drogas agora?”.

    O estudo tenta explicar a mudança no padrão brasileiro, que pode ser atribuída a diferentes causas, como o perfil dos usuários, acesso facilitado, legislação, questões socioculturais, bem como o surgimento do fenômeno em todo o mundo. Mas Costa destaca que ainda é cedo para alcançar essa resposta. De todo modo, ele aponta que o dado é preocupante.(Do Estado)

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