O vice-presidente, Hamilton Mourão, criticou em pronunciamento em rede nacional nesta sábado (31) representantes dos Três Poderes e afirmou que o silêncio de autoridades criou o caos social.
Ele não citou o presidente Jair Bolsonaro (PL), que viajou para os Estados Unidos na última sexta-feira (30).
"Lideranças que deveriam tranquilizar e unir a nação em torno de um projeto de País deixaram com que o silêncio ou o protagonismo inoportuno e deletério criassem um clima de caos e de desagregação social e de forma irresponsável deixaram que as Forças Armadas de todos os brasileiros pagassem a conta, para alguns por inação e para outros por fomentar um pretenso golpe", disse.
Ele também mandou recados indiretos ao STF (Supremo Tribunal Federal), que teve duros embates com o Executivo nos últimos quatro anos.
"A falta de confiança de parcela significativa da sociedade nas principais instituições públicas decorre da abstenção intencional desses entes do fiel cumprimento dos imperativos constitucionais, gerando a equivocada canalização de aspirações e expectativas para outros atores públicos que, no regime vigente, carecem de lastro legal para o saneamento do desequilíbrio institucional em curso", afirmou.
E prosseguiu com os recados ao Judiciário: "Desejo concitá-los a lutar pela preservação da democracia, dos nossos valores, do estado de direito e pela consolidação de uma economia liberal, forte, autônoma e pragmática e que nos últimos tempos foi tão vilipendiada e sabotada por representantes dos Três Poderes da República, pouco identificados com o desafio da promoção do bem comum".
Ele lembrou, ainda, que o governo enfrentou a pandemia da Covid-19 e a guerra entre Ucrânia e a Rússia.
Mourão não mencionou os acampamentos bolsonaristas em frente a quarteis, mas afirmou que é necessário que a vida volte ao normal.
"Retornemos à normalidade da vida, aos nossos afazeres e ao concerto de nossos lares, com fé e com a certeza de que nossos representantes eleitos farão dura oposição ao projeto progressista do governo de turno, sem, contudo, promover oposição ao Brasil. Estaremos atentos", afirmou.
Mourão também criticou o governo do PT que se iniciará em janeiro.
"Aos que farão oposição ao governo que entra, cumprirá a missão de opor-se a desmandos, desvios de conduta e a toda e qualquer tentativa de abandono do perfil democrático e plural, duramente conquistado por todos os cidadãos", afirmou.
O vice-presidente exaltou realizações da gestão Bolsonaro, mas admitiu que o governo teve falhas na Amazônia.
"Na área ambiental, por exemplo, tivemos percalços, embora tenhamos alcançado reduções importantes no desmatamento", afirmou.
Ele disse que o Brasil segue no mesmo regime, a democracia. "Destaco que a partir do dia 1º de janeiro de 2023 mudaremos de governo, mas não de regime. Manteremos nosso caráter democrático, com Poderes equilibrados e harmônicos, alternância política pelo sufrágio universal".
O mandatário deixou o país para não ter que passar a faixa para o presidente diplomado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na posse marcada para este domingo (1).
O chefe do Executivo deu poucas declarações públicas após a derrota nas eleições e manteve em sua militância mais radical a esperança de que poderia adotar alguma medida para evitar a posse do petista.
Antes de partir para os EUA, porém, Bolsonaro fez uma live de despedida em que deixou claro que iria passar o poder para Lula.
Na transmissão ao vivo pelas redes sociais, ele condenou a tentativa de um ato terrorista em Brasília, criticou a montagem do governo Lula (PT), repetiu o discurso de perseguido, ensaiou uma fala como líder da oposição e defendeu os atos antidemocráticos de seus apoiadores pelo país.
"É um governo que começa capenga", disse. O presidente ainda ensaiou um discurso de oposição ao governo Lula, o que vinha evitando em sua reclusão após a derrota de outubro.
Mourão está no Brasil, mas já tinha avisado que não pretendia cumprir a missão de passar a faixa presidencial em nome de Bolsonaro.
O atual vice-presidente elegeu-se senador pelo Rio Grande do Sul nas eleições deste ano. Ele entrou em atritos com Bolsonaro durante o mandato e o chefe do Executivo escolheu o general da reserva Braga Netto para ser seu colega de chapa.
Apesar disso, Bolsonaro apoiou Mourão no pleito gaúcho. Antes de embarcar para os EUA, Bolsonaro fez uma live de despedida nas redes sociais.