• Lobos e Saramagos

    4682 Jornal A Bigorna 26/03/2023 19:50:00

    Poesia

    Seus: os Lobos e Saramagos, os cheiros em frascos;

    aquela boneca sem os braços

    e os velhos retratos de um tempo de nós dois;

     

    a cesta de vime, as porcelanas trincadas,

    a caneca esmaltada...

    Os nós dos laços guardados

    do cão que já partiu.

     

    (todos aqueles instantes doces e líricos,

    tudo aquilo que um dia nos uniu).

     

    Ah, não se avexe ao sair com a talha

    por debaixo do braço

    (presente de avó se guarda);

    o oratório com suas rendas...

    E o santo Antão de barro.

     

    Suas: a tigela do Japão, e as pedras recolhidas

    numa tarde em Almeria sob a luz de um verão...

     

    MAS DEIXE POR AÍ

    NUM CANTO QUALQUER:

     

    a flâmula banhada nos meus olhos

    de Atlético, que dela não abro mão.

     

    (esse querer de homem, meu bem,

    não se troca por qualquer paixão.)

     

    E, se não for pedir muito,

    o vinil do Paulinho... Riscado

    pela agulha do seu enfado.

     

    QUE SEJA ASSIM:

     

    Seu: o direito de apagar a luz,

    de se olhar pela última vez no espelho

    e cirandar pela sala cantarolando Moon River.

     

    Deixe comigo seu perfil na vidraça

    e, por favor, um cadim de sua Minas

    à luz do abajur no aparador:

     

    um quê de frango com bambá

    num prato com couve e quiabo.

     

    Que tudo o mais, para repetir aquele sambista:

    é sonho perdido/ só desatino/ dores demais.

     

    *Por José Carlos Santos Peres

     

    OUTRAS NOTÍCIAS

    veja também