Seus: os Lobos e Saramagos, os cheiros em frascos;
aquela boneca sem os braços
e os velhos retratos de um tempo de nós dois;
a cesta de vime, as porcelanas trincadas,
a caneca esmaltada...
Os nós dos laços guardados
do cão que já partiu.
(todos aqueles instantes doces e líricos,
tudo aquilo que um dia nos uniu).
Ah, não se avexe ao sair com a talha
por debaixo do braço
(presente de avó se guarda);
o oratório com suas rendas...
E o santo Antão de barro.
Suas: a tigela do Japão, e as pedras recolhidas
numa tarde em Almeria sob a luz de um verão...
MAS DEIXE POR AÍ
NUM CANTO QUALQUER:
a flâmula banhada nos meus olhos
de Atlético, que dela não abro mão.
(esse querer de homem, meu bem,
não se troca por qualquer paixão.)
E, se não for pedir muito,
o vinil do Paulinho... Riscado
pela agulha do seu enfado.
QUE SEJA ASSIM:
Seu: o direito de apagar a luz,
de se olhar pela última vez no espelho
e cirandar pela sala cantarolando Moon River.
Deixe comigo seu perfil na vidraça
e, por favor, um cadim de sua Minas
à luz do abajur no aparador:
um quê de frango com bambá
num prato com couve e quiabo.
Que tudo o mais, para repetir aquele sambista:
é sonho perdido/ só desatino/ dores demais.
*Por José Carlos Santos Peres