• Liturgia do André # 43  - A vida sem lentes e a bengala do homem

    345 Jornal A Bigorna 10/02/2025 07:50:00

    Vida sem lentes

    Se quisermos ter uma vida sobre o temperamento , a ética, e a elegância , precisamos observar  situações adversas , não sob a lente cor de rosa da vida, mas entender que quase tudo na vida social é produzido por saltos e choques raros, mas importantes, pois já que tudo na vida social é considerado a partir do normal, numa sociedade anormal.

    Quando escrevi que a sociedade estava doente, me deparei com vários estudos de nossos antepassados. Por exemplo, os idosos de uma aldeia quando ficavam inválidos eram abandonados em picos de montanhas onde poderiam morrer, e não atrapalhariam o grupo em busca de sobrevivência.

    O que mudou em nossa sociedade? Apenas as formas e costumes, pois a violência a falta de empatia está no mesmo patamar, porém diferentes.

    Dostoiévski

    O vazio espiritual na obra de Dostoiévski é um tema central e recorrente, refletindo sua visão profunda sobre a condição humana. Diferente de um mero niilismo ou ceticismo, o vazio espiritual em Dostoiévski surge do confronto entre a razão e a fé, a liberdade e a responsabilidade, o bem e o mal. Ele apresenta personagens que lutam com o sentido da vida em um mundo onde Deus parece distante ou até ausente.

    O vazio existencial na Atualidade

    Em um mundo hiperconectado, mas emocionalmente fragmentado, o vazio existencial se tornou uma realidade silenciosa para muitos. A busca incessante por sucesso, validação nas redes sociais e consumo desenfreado não preenche o profundo sentimento de falta de propósito que assombra a sociedade contemporânea.

    A ausência de conexões genuínas, a crise de identidade e a perda de valores transcendentes deixam um espaço vazio que nem o entretenimento constante consegue silenciar. O ser humano moderno, perdido entre a razão e o desejo, entre a liberdade e a responsabilidade, se vê diante da mesma questão que assombrava os personagens de Dostoiévski: sem um sentido maior, o que resta?

    O significado da Morte de Deus

    Nietzsche usa essa expressão principalmente em A Gaia Ciência e em Assim Falou Zaratustra. Para ele, a modernidade matou Deus ao substituir a fé pela razão, mas sem oferecer um novo fundamento sólido para a moralidade e o sentido da vida. O problema não era apenas a perda da crença religiosa, mas o que viria depois: sem Deus, como a humanidade lidaria com a falta de um propósito absoluto?

    As consequências do Vazio

    Com a morte de Deus, Nietzsche via o risco do niilismo – a ideia de que a vida não tem significado. Ele temia que, sem valores transcendentes, a humanidade entrasse em uma crise existencial profunda, sem saber como justificar a moralidade, os valores e os propósitos da vida.

    Nietzsche e a Atualidade

    Hoje, a morte de Deus ainda ressoa nas crises de sentido, no individualismo e no colapso de antigas certezas. O que fazer diante desse vazio? Nietzsche não dá respostas prontas, mas nos desafia a sermos criadores do nosso próprio significado, sem nos apegarmos a ilusões confortáveis.

    Superando o vazio sem Deus

    Por outro lado, muitos ateus encontram significado sem recorrer à fé. Alguns buscam sentido na ciência, na arte, nas relações humanas, no compromisso ético e no próprio ato de viver plenamente. Filósofos como Albert Camus sugeriram que, mesmo em um universo sem propósito pré-determinado, a vida pode ser valorizada pelo que ela é — um ato de rebeldia e criação diante do absurdo.

    Sartre e a Inexistência de Deus

    Para Sartre, a ideia de Deus servia historicamente como um fundamento absoluto para a moralidade, os valores e o sentido da vida. No entanto, se Deus não existe, não há um "caminho certo" já traçado para nós. Isso leva a um dilema: sem Deus, não há um sentido objetivo para a vida, e o ser humano precisa criar o seu próprio significado.

    Liberdade e Responsabilidade

    Sartre argumenta que a inexistência de Deus nos dá liberdade total, mas essa liberdade vem acompanhada de uma grande responsabilidade. Sem uma autoridade divina para estabelecer regras morais, cada pessoa deve decidir por si mesma o que é certo e errado, assumindo as consequências de suas escolhas.

    Esse conceito pode ser assustador para algumas pessoas, levando ao que Sartre chama de "angústia existencial" – o peso de saber que somos os únicos responsáveis por nossas vidas. Muitas pessoas tentam escapar dessa angústia se enganando, vivendo de acordo com expectativas externas ou dogmas, algo que ele chama de "má-fé".

    Sartre e o Niilismo

    Apesar de rejeitar Deus, Sartre não defendia o niilismo, ou seja, a ideia de que nada tem sentido. Ele acreditava que o ser humano pode e deve criar seu próprio sentido da vida através da ação, das escolhas e da autenticidade. Para ele, o que realmente importa não é acreditar em uma verdade imposta, mas viver com coerência e compromisso com as próprias decisões.

    Deus como bengala existencial

    "Se Deus não existe, não há trilhos nem mapas—somos nós que desenhamos o caminho, e o peso da bússola é nossa própria liberdade, ou afinal, o homem criou ‘deus’ porque não suporta a própria existência e precisa de uma ‘bengala’ para se manter vivo?”

     

    Epitáfio

    “A verdadeira viagem de descoberta não é procurar novas terras, mas olhar como novos olhos.” —Marcel Proust

     

     

     

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