• Liturgia do André # 37 — A Temporalidade do Ser

    319 Jornal A Bigorna 21/07/2024 16:30:00

     

    Toda minha vida percebi que eu nunca fui daqui! Quando sonhava, sentia que o sonho era algo material, tudo aquilo que eu já tinha visto. Então, não eram sonhos, mas lembranças de uma vida que vivi.

    Até que um dia comecei a sonhar com o imaterial. De lampejos, esses sonhos se tornaram filmes intensos. Mas de onde eu vinha? De outras vidas? De outros mundos?

    O tempo e o espaço, de repente, tornaram-se um só, numa relação ambígua e dicotômica. Antes disso, eu estava confuso, sentia que não era eu mesmo. O passado forjou uma mistura do meu ser para determinar o que eu viria a ser.

    A vida se tornou um átimo forte, com lampejos de dias que passavam sem que eu sentisse nada; uma vida desconexa do espaço. Percebi que os dias eram um cotidiano infeliz; vivíamos como máquinas repetitivas, com resultados burlescos.

    O imaterial é algo que leva para lugares onde os sonhos não conseguem ir. É como caminhar sem um caminho a seguir, ou, se tivéssemos um caminho, seríamos meros caminhantes em um mundo manco. Assim, a relação entre as pessoas nada mais seria do que algo malogrado e senil. Entramos num mundo que não nos quer dentro dele.

    O mundo é uma 'gaiola', uma escola de treinamento filosófico. Ninguém consegue sobreviver sem que suas mais caras ilusões e suas mais preciosas especulações metafísicas se esfacelem. O homem precisa ser um grande filósofo para sobreviver por anos ao impacto contínuo das experiências humanas brutais. Ele é o único culpado por desejar a liberdade de uma vida que não lhe pertence.

    Percebendo-se perdido num mundo onde não consegue respostas para tudo o que deseja, o homem inventa um apoio para manter-se firme em sua imperfeição. Sem apoio para a vida emocional e anormal, cheia de questões que nunca serão respondidas, Jean-Paul Sartre escreve sobre a dependência humana de Deus: "Se Deus existe, o homem é um nada; se Deus não existe, o homem é tudo."

    Essa frase encapsula a visão de Sartre de que a crença em Deus pode ser vista como uma forma de dependência, uma "bengala" que diminui a responsabilidade do indivíduo por sua própria existência e escolhas.

     

     

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