O sistema de escola em período integral, apesar de bem-intencionado (de boa intenção o inferno está cheio), revela-se desconectado da realidade socioeconômica de muitos estudantes do ensino médio. Em um país onde a necessidade de contribuir para a renda familiar é uma realidade para muitos jovens, a imposição de um horário escolar prolongado pode ser um fardo insustentável. Esta situação cria um dilema entre a educação e a sobrevivência econômica, prejudicando aqueles que mais precisam de flexibilidade para equilibrar essas demandas.
O ideal de proporcionar uma educação integral visa, teoricamente, melhorar o desempenho acadêmico e oferecer um ambiente seguro para os alunos. No entanto, na prática, essa abordagem ignora as condições econômicas adversas enfrentadas por uma grande parcela da população estudantil. Muitos adolescentes são obrigados a trabalhar para ajudar suas famílias, e a extensão do horário escolar limita suas oportunidades de emprego, aprofundando as desigualdades socioeconômicas.
Ademais, a estrutura de período integral não leva em conta as necessidades emocionais e físicas dos estudantes. Longas jornadas escolares podem resultar em exaustão e falta de tempo para atividades extracurriculares, essenciais para o desenvolvimento integral do jovem. A pressão para permanecer na escola por períodos prolongados sem a garantia de suporte adequado fora dela compromete a saúde mental e o bem-estar dos alunos.
Os defensores do sistema de escola integral argumentam que ele mantém os estudantes longe das ruas e dos perigos sociais. Contudo, essa visão paternalista desconsidera a capacidade dos jovens de gerir suas vidas e a necessidade de um equilíbrio saudável entre educação, trabalho e lazer. É fundamental oferecer alternativas educacionais que reconheçam e respeitem a realidade econômica de cada estudante, em vez de impor um modelo único e rígido.
Além disso, o investimento em escolas de período integral muitas vezes desvia recursos necessários para outras áreas críticas do sistema educacional, como a melhoria da infraestrutura, a formação de professores e o fornecimento de material didático adequado. A priorização de uma abordagem única pode levar ao desmantelamento de programas que poderiam oferecer suporte mais direto e eficaz às necessidades variadas dos estudantes.
Para criar um sistema educacional verdadeiramente inclusivo e eficaz, é necessário adotar soluções flexíveis que considerem as circunstâncias individuais dos alunos. Modelos híbridos, ensino noturno e programas de aprendizagem à distância são apenas algumas das alternativas que poderiam atender melhor à diversidade socioeconômica dos estudantes. É imperativo que a política educacional evolua para refletir a realidade complexa e multifacetada da vida estudantil contemporânea.
Assim, no tocante as vagas para alunos no período diurno e, principalmente, no período noturno como ensino regular e não em sistema integral deve ter maior abrangência, caso contrário, teremos dificuldades ainda maiores, como já estamos tendo — a falta de vagas nos períodos noturnos para alunos que precisam trabalhar.
A realidade é mais dura e mostra mais a verdade do que um modo implantado e capenga como são as escolas PEI.
*Por André Guazzelli
Jornalista, professor de história e filosofia, pós-graduado em sociologia e pós-graduando em Arqueologia.