• LAMPIÃO O REI DO “CAGAÇO”

    303 Jornal A Bigorna 08/09/2024 16:10:00

    LAMPIÃO O REI DO “CAGAÇO”

    LITERATURA DE CORDEL

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    MAURÍCIO DE BARROS

     

     

     

     

     

     

    Nos cafundós do sertão

    Esse caso aconteceu...

    A acauã vendo o bando

    Do ninho se escafedeu...

    Ouviu-se a jaguatirica

    Dizendo: se ninguém fica

    Muito menos fico eu.

     

    Por ser tanto cangaceiro

    Não se podia contar

    E onde eles passavam

    Não dava pra calcular

    O estrago que ficava

    Porque a corja deixava

    Tudo de pernas pro ar.

     

    Era época de São João

    E a festa acontecia

    Por isso no lugarejo

    Muita fogueira se via

    Mas quando o bando surgiu

    O aviso se ouviu

    Na Vila Santa Maria.

     

    E quando escutaram a voz:

    “Chegaram os cangaceiros!”

    Todos naquele instante

    Abandonaram os terreiros

    Deixando o milho torrando

    E a batata queimando

    Dentro daqueles braseiros.

     

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    Dessa maneira o cangaço

    Invadiu o povoado

    Que com aspecto fantasma

    Parecia abandonado...

    Não tinha desde a entrada

    Nem uma alma penada

    Tudo estava calado.

     

    Cadê o povo daqui?

    Para mim isso é ofensa!

    Falou Lampião irado

    E decretou a sentença:

    Vamos! Cerquem o lugarejo!

    Vou saber por que não vejo

    Gente em minha presença.

     

    O resultado da ordem

    Aos poucos já se via

    O povo era arrastado

    Na maior selvageria

    E no meio do terreiro

    De tão grande o berreiro

    Causava até agonia.

     

    Lampião disse baixinho:

    Hoje a coisa se arrebita

    Quero as pessoas pulando

    Saltando como cabrita...

    Vai ser uma maravilha

    Vê-las dançando quadrilha

    Pra, tu Maria Bonita!

     

     

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    A mulher se desmanchou

    Em sinistra gargalhada

    Acrescentando: a coisa

    Vai ficar bem mais salgada...

    Quero todo mundo nu

    Mostrando o mucumbu

    Porém dando umbigada.

     

    A situação ficava

    Já meio constrangedora

    Aquela vontade dela

    Era desesperadora

    A quadrilha começou

    E desse jeito rumou

    Para a coisa sedutora.

     

    No folguedo inusitado

    Iniciou-se o escracho

    E dizendo: tirarem as roupas

    Lampião virou o diacho

    Ordenando que o viril

    Sentindo o fogo a mil

    Não podia erguer o facho.

     

    Lampião falou, ainda:

    Quem esconder a vergonha

    Vai sentir o meu punhal

    E gritou com voz medonha:

    Eu quero tudo pelado!

    Mas de ânimo abaixado

    Ou seja: a coisa tristonha.

     

     

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    Sendo obrigada a servir

    Bebida pra ‘quela raça

    Geni (a dona da casa)

    Botou dentro da cabaça

    O óleo do acarajé

    (receita de um pajé)

    E desandou a cachaça.

     

    Esse azeite de dendê

    Colocado em abundância

    Provocou nos cangaceiros

    Tamanha deselegância

    E com aspectos murchos

    Eles seguravam os buchos,

    Meio curvados na ânsia.

     

    Lampião se acocorou

    Espalhando a catinga

    E sem tempo de chegar

    No mato... na caatinga

    Exclamou, no desarranjo:

    Valentia eu esbanjo

    Só não quando bosta pinga.

     

    Sabendo disso a volante

    No sertão se embrenhou

    E não vendo resistência

    O bando aprisionou...

    Assim o rei do cangaço

    Virou o rei do cagaço

    E o terror se acabou.

     

     

                        

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

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