Infanciazinha
-----------------
Santos Peres
-------------------
Pai cozinhava o galo enquanto roça ardia na tiririca;
mãe dava de comer aos filhos:
mandioca da horta e leite da cabra menina.
Sempre um rio nos olhos da mãe
quando vento bulia cosgalhos das araucárias,
naquelas tardes de Paraná.
Mãe contava umas histórias
para dormir que vou te contar:
havia uma princesa e um castelo
e um cavalo branco;
a moça tinha cabelo comprido...
Por ele o herói chegava à torre.
Pai também tinha um cavalo branco,
já sem dentes.
Mas nosso castelo era de chão batido,
lamparina alumiando estampas de santo
e janela esquecida-em-azul,
sempre aberta às batidas do monjolo
e aos pirilampos pisca-não-sim.
Bom mesmo era ouvir Jerônimo
- Justiceiro do Sertão – na Piratininga,
antes da conversação das maritacas
no quintal, onde a roça se perdia na tiririca
enquanto pai cozinhava o galo
e mãe chorava rios profundos...
Talvez mãe chorasse porque o cavalo branco do pai
houvera perdido os dentes
ou porque ela cortara os cabelos.
Vai saber...
Mães são tão cheias de histórias...
Inda mais quando vento bole
cosgalhos de araucárias.