• Ilações, verbetes editados: "desafetos" do Papa Francisco tentam influenciar conclave

    169 Jornal A Bigorna 25/04/2025 01:10:00

    Entre 15 e 20 dias depois da morte do Papa Francisco, mais de 130 cardeais vão se reunir a portas fechadas na Capela Sistina para definir a sucessão do argentino. Pelo ritual herdado da Idade Média, o mestre de cerimônias vai pronunciar a frase "extra omnes" (todos fora) antes que a sala seja vedada, com o objetivo de evitar influências externas sobre a deliberação dos religiosos. O problema é que há tempo suficiente entre o falecimento do Pontífice e o começo do conclave para a difusão de boatos e suspeitas infundadas — e, segundo o jornal italiano "Corriere della Sera", desafetos de Francisco já se movimentam nesse sentido, há anos.

    Não é de hoje que correntes católicas tentam interferir e direcionar as escolhas do conclave, inclusive para minar as chances de "candidatos indesejados". Mas, com a popularização da internet, tais manobras se tornaram mais evasivas, ambíguas, escondidas por trás do anonimato e de virais nas redes sociais, ressalta o diário.

    Em 2013, por exemplo, críticos de Jorge Mario Bergoglio espalharam que o argentino, então cotado para suceder o Papa Bento XVI, tinha apenas um pulmão. Alguns cardeais o questionaram sobre isso durante o conclave, e o futuro Pontífice precisou esclarecer: em 1957, aos 21 anos, perdeu o lobo superior do pulmão direito por causa de três cistos, mas o órgão acabou por se expandir e se adequar ao hemitórax.

    Hoje, um candidato pode ser atingido de forma ainda "mais eficaz", com mentiras que vão desde a sua saúde a acusações de acobertamento de pedófilos. O "Corriere della Sera" destacou que o pontificado de Francisco enfrentou uma resistência tradicionalista online "bem organizada e financiada", com epicentro nos setores mais conservadores da Igreja nos Estados Unidos.

    Um livro de Nicolas Senèze expôs, como aponta seu título, "Como a América quis mudar o Papa". Na obra, de 2019, o jornalista cita as manobras conduzidas pela extrema direita católica americana para afetar um novo conclave.

    "Um 'grupo para uma melhor governança da Igreja' apresentou a potenciais doadores uma operação chamada 'Red Hat Report', que tinha um orçamento de um milhão para elaborar 'em dois anos' um dossiê para cada cardeal eleitor, com foco em acusações e rumores de 'abusos', 'corrupção', etc", explica o "Corriere", com base no livro de Senèze.

    Um dos objetivos, de acordo com o jornal italiano, era modificar os perfis dos cardeais na Wikipédia. "Se tivéssemos feito isso antes, talvez não tivéssemos o Papa Francisco", teriam concluído os desafetos do latino-americano.

    O grupo ainda espalhou um dossiê contra Bergoglio feito por Carlo Maria Viganò, ex-prelado da Igreja que chamou Francisco de "servo de Satanás" e acabou excomungado em 2024 pelo delito de cisma. Dos Estados Unidos, o National Catholic Register, parte da rede EWTN (Eternal Word Television Network), epicentro midiático da oposição, cuidou disso, diz o jornal.

    Nos últimos anos, o Vaticano reforçou publicações nos sites Vaticannews.va e Vatican.va, com notícias, documentação e biografias. Segundo o "Corriere", as medidas levaram em conta, também, o temor de o conclave ser influenciado por ataques anônimos de hackers.

    A portas fechadas na Capela Sistina, os cardeais ficam sem acesso a celulares e computadores, mas isso não se aplica aos dias anteriores ao início do processo.(Do Globo)

    OUTRAS NOTÍCIAS

    veja também