• Golpismo de Bolsonaro duela com naftalina de Lula no 1º de Maio

    1694 Jornal A Bigorna 01/05/2022 19:00:00

    Os antecipados atos concorrentes de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) neste 1º de Maio serviram para dar um desenho claro do desolador cenário político brasileiro a cinco meses da eleição mais importante desde a redemocratização de 1985.

    Primeiro, a clareza: eles giraram em torno dos dois líderes da corrida eleitoral até aqui, refletindo o que o mundo político já precificou: apenas uma grande surpresa mudará a sensação de que está sendo disputado um segundo turno antecipado entre os rivais.

    A tibieza das outras forças políticas brasileiras em apresentar algo melhor que a autofagia ao eleitor se mostra em seu esplendor. Claro, tudo pode mudar se o Imponderável de Almeida se apresentar, mas a esta altura isso é apenas acadêmico.

    Já a desolação decorre principalmente pela atitude golpista explícita adotada pelo presidente da República, que no mesmo dia participou de dois atos em que os manifestantes pediam o cancelamento do Judiciário ou coisa pior, pelo que se viu no caixão com a efígie de Alexandre de Moraes na orla do Rio.

    Claro, será argumentado que Bolsonaro pegou leve, evitou ataques diretos ao Supremo, moderou o tom. Mas, em um país normal, estaríamos falando em impedimento de tal conduta. Como os atos paroxísticos do Sete de Setembro do ano passado já mostraram, enquanto carne houver no osso do Executivo, a tolerância com o intolerável grassará.

    É uma crise institucional contratada, claro, essa que Bolsonaro já desenhou com giz de cera, em traços grosseiros que falam sobre urnas eletrônicas. O centrão finge que não é com ele, dada a proverbial carne em forma de emendas e Fundo Eleitoral garantidos, mas na hora em que a eleição estiver contestada, isso não será algo seletivo para a Presidência —os votos de seus integrantes estarão no mesmo alvo.

    Parece importar pouco o risco real de violência eleitoral e situações limite de ruptura. Bolsonaro, como o Coringa de Christopher Nolan, é neste enredo um agente do caos. Com a diferença de que não há Batman no filmeco brasileiro, felizmente aliás.

    O Supremo tem cometido erros táticos que só pioraram o cenário. A transformação de do caso Daniel Silveira pelas mãos bolsonaristas em um refrega sobre liberdade de expressão é tão farsesca quanto perigosa. A presença de um sujeito com a roupa do nativista americano do 6 de janeiro de 2020 a seu lado no palanque do Rio é um lembrete meio ridículo, mas real, dos riscos colocados aqui.

    À clareza em campo, adiciona-se a desolação. Lula, como concorrente à frente de Bolsonaro, teoricamente teria a obrigação de assumir a dianteira também no embate democrático. Por todas suas falhas em defesa de liberdades, como o desprezo pela imprensa em seus anos de poder explicita, não há registro de seu lado de nada parecido com o que Bolsonaro faz.

    Mas o petista preferiu usar o Dia do Trabalho para fazer um discurso cheirando a naftalina de Carnavais passados, em sindicalês quase puro. OK, ele falava aos seus, entre eles o proverbial "Paulinho da Farsa Sindical", como todo petista gostava de chamar nos anos 1990. Mas o momento pede mais.

    Do ex-presidente, além dos epítetos que só fazem crescer o Pokémon bolsonarista (fascista, genocida), só se ouviu promessas trabalhistas e a negação da privatização da Eletrobrás, tema tão candente para o eleitorado. Isso para não falar na "nossa Petrobrás", cujos efeitos do amor de petistas e aliados é sabido na casa dos bilhões de reais —e não, isso não foi perdoado ainda pela Justiça.

    Eis o desenho político do Brasil neste feriado em pleno domingo: esvaziado de interesse real da população, polarizado à direita e envelhecido à esquerda, para cada um cantar sua vitória no Twitter.(Da Folha de SP)

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