• 282 Jornal A Bigorna 29/12/2024 11:00:00

    FLÂNEUR

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    Santos Peres

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    Na argamassa da poesia caberiam pedras e ferro

    da firma Cabral & Bandeira para dizer

    que em bueiros e desvãos há homens-bicho;

     

    areia branca e fina e um quê do cimento de Vinicius

    caberiam para dar um pouco de luz às sombras

                                                             tristes da cidade.

     

    Queria viver de poemas líricos

    espalhando versos pelas calçadas

    dependurando rimas como flores

                                          nas sacadas;

     

    construir um sol, uma ponte, uma menina na bicicleta,

    um riacho, uma bola e um pássaro azul...;

    também caveiras e rostos distorcidos

    para dizer da Guernica que nos cerca.

     

     

    Queria parir a cidade

    tirando de suas entranhas gritos

                                   loucos de Munch

    para cambiar com ela canteiros

    de afagos e beijos em grafites

                                            de delicadezas...

     

    Agora não sabe por que a argamassa

    desandou: sempre que pensa em sair por aí

    homens embrutecidos acinzentam seus muros

    com os pinceis da dureza e da ignorância.

     

    Mas os cães... Esses não ladram à sua passagem.

     

                                                                                                 

     

     

     

     

     

     

     

     

                                                                                     

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