A cada ano, o analfabetismo no Brasil diminui. Em 2016, era de 6,7%. Três anos mais tarde, tinha caído para 6,1%. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, divulgados na quarta-feira mostram que a taxa de 2022 ficou em 5,6%. Um avanço, portanto. Mas, como acontece com quase todos os índices de educação no Brasil, a melhora se dá em câmera lenta. A meta do Plano Nacional de Educação (PNE) — erradicar o analfabetismo até 2024 — não será cumprida.
O Brasil ainda tem 9,6 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais. O Nordeste é onde vive mais da metade, com destaque para Piauí (onde a taxa é 14,8%), Alagoas (14,4%) e Paraíba (13,6%). A título de comparação, no Rio a taxa é 2,1%, em São Paulo e Santa Catarina 2,2% e no Rio Grande do Sul 2,5%. O maior contingente de analfabetos, diz Adriana Beringuy, coordenadora no IBGE, são idosos que não tiveram acesso à escola na infância e juventude.
Infelizmente, mesmo as crianças hoje na escola têm enfrentado dificuldades na alfabetização. Cinquenta e seis por cento dos alunos do segundo ano do ensino fundamental não tinham capacidade básica de leitura nem de escrita ao final de 2021. É bom lembrar que o Brasil foi o segundo país onde as escolas ficaram mais tempo fechadas durante a pandemia. Enquanto profissionais da saúde e da segurança pública cumpriam seus deveres, professores, amparados por sindicatos poderosos, abandonaram seus alunos mesmo depois de comprovada a falência das tentativas de ensino à distância.
Por isso não foi surpresa o desempenho de crianças brasileiras do quarto ano do ensino fundamental na edição de 2021 do Estudo Internacional de Progresso em Leitura (conhecido pela sigla Pirls). Entre os 65 países, o Brasil ficou na 59ª posição, atrás de países como Turquia e Uzbequistão. Mais de metade das crianças brasileiras não é alfabetizada na idade certa, e apenas 43% já aprenderam a ler aos 8 anos.
Quando o assunto são as carências na educação, é comum o debate ser contaminado pela sensação de derrota. Mas o Brasil tem vários exemplos de municípios e estados que obtiveram bons resultados. Por diferentes motivos, Sobral (CE), Espírito Santo e Pernambuco são citados com mais frequência, mas casos de sucesso estão espalhados por todo o país. Como costuma dizer o professor do Insper Ricardo Paes de Barros, é preciso reproduzir modelos bem-sucedidos em lugares com características semelhantes.
Para erradicar o analfabetismo, seria bem-vinda uma aliança suprapartidária no Congresso Nacional de representantes dos estados mais afetados (Piauí, Alagoas e Paraíba), em parceria com o MEC e os respectivos governos estaduais, para apoiar e acompanhar políticas de alfabetização com o objetivo de acabar com essa vergonha. É inaceitável que, em plena era digital, tanta gente ainda viva nas trevas.(Do Globo)