O medo de perder o financiamento por razões políticas tem tirado a liberdade dos professores e acadêmicos nas universidades brasileiras. É isso que indica o estudo “A liberdade Acadêmica está em risco no Brasil?”, que ouviu 1.116 cientistas das cinco regiões do país.
Segundo a pesquisa, 58% dos entrevistados afirmaram que conhecem experiências de pessoas que já sofreram limitações ou interferências indevidas em suas pesquisas ou aulas.
“Estamos em um cenário em que docentes e pesquisadores estão acuados, amedrontados e desvalorizados”, disse a cientista política Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ e coordenadora do Observatório do Conhecimento.
Segundo ela, a principal justificativa para a autocensura é o temor de perder o financiamento.
“O ensino e a pesquisa não encontram uma autonomia e estabilidade de financiamento que garanta a esse professor as condições necessárias para fazer seu trabalho”, explicou Mayra.
A pesquisa mostrou que 35,3% dos acadêmicos entrevistados já limitaram aspectos da própria pesquisa e 42,5% restringiram o conteúdo das próprias aulas, por receio de alguma consequência negativa.
“Estes dados expõem a associação entre o governo Jair Bolsonaro e as ameaças à liberdade acadêmica”, disse Mayra.
O medo de retaliações é mais frequente entre docentes que pesquisam assuntos ligados à educação e gênero. Mas também está disseminado por várias áreas do conhecimento, como ecologia, turismo, matemática, bioquímica, entre outras.
O estudo foi promovido pelo Observatório do Conhecimento, o Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (LAUT) e o Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).(O Globo/Por Miriam Leitão)