
Por Assis Chateaubriand
Quando a pandemia chegou, confesso que me assustei. Quando lia e assistia nos jornais que na China havia um surto de tal doença, nunca acreditei que por nossos rincões tal peste se instalaria. Como um homem demasiadamente humano, também pensei como muitos – a China é longe, assim estamos seguros.
Esta triste pandemia que, hoje, é comparada a gripe espanhola de 1908, de fato pegou gerações jovens e nós os mais velhos de surpresa. Nunca em minha existência e acredito que a imensa maioria das pessoas, pensávamos que um dia iriamos usar máscaras e ter que nos cuidar e ficar mais em nossas casas, sem se esquecer que milhões de nossos semelhantes não tem um teto para se abrigaram. O mundo além de injusto é cruel.
Somos todos iguais, porém diferentes! Nesta desigualdade social alarmante, onde muitos comem e outros passam fome, nós aqui sobrevivemos lutando da melhor maneira possível. Perdi amigos queridos para esta doença, parentes e conhecidos, e sinto que sofro muito até hoje com o confinamento, especialmente por minha idade, e apenas pelas idas e vindas de farmácias e supermercados, minha vida ficou mais reclusa.
Embora vacinado, às coisas não mudaram. O ritmo que todos nós acreditávamos que seria grande da vacinação, neste momento é decepcionante. Apenas poucos tomaram as duas doses e caminhamos a ritmo frenético para um possível nova onda, já que, o que se vê, inobstante, é que a população brasileira, realmente, uma grande parte não colabora para que a transmissão do vírus seja menor. Quanto mais aglomerações maior a disseminação da carga viral.
Quando o filósofo alemão Friedrich Nietzsche escreveu que o indíviduo atenta demasiadamente para seu curto período de vida e não sente maior estímulo para trabalhar em instituições duráveis, projetadas para séculos, onde ele próprio homem quer colher a fruta da própria árvore que plantou, e não se dedica para plantar novas árvores às futuras gerações, ele estava falando do ‘egoísmo humano’.
Sim, o homem é um ser em si e para si, demasiadamente egoísta. Se pensássemos no todo, com certeza não teríamos mais perigos de estamos expostos a um vírus que sepultou pais, mães e filhos neste imenso mundo. O homem por si só, pensa que ele mesmo basta.
Entretanto tal pandemia nos mostrou totalmente o contrário. Não somos seres que a si mesmos nos bastamos. Pertencemos a uma espécie e a uma sociedade mundial. Quando todos somos atacados em nível mundial, reforça a convicção de o quanto o home é frágil por si só.
A ele compete apenas usar a razão e entender que seu egoísmo não o levará a lugar algum. A pandemia nos ensina a fraternidade e a solidariedade, e menos ao ódio e rancor.
Um dos Papas mais à frente de seu tempo e um grande renovador, Jorge Bergoglio (Franscisco) escreveu que a os pilares sobre os quais devem ser reconstruídas as sociedades devastadas pela epidemia são a esperança, ecologia e a solidariedade.
As lições desta pandemia ainda sem os dias contados para acabar deveriam tornarmo-nos mais solidários e menos egoístas.
Embora eu acredite que os homens confiem em Deus por não confiarem em si mesmos, quiçá ao final de tudo isso possamos ter mais paz e harmonia. Ao fim deste colapso que tudo nos leve de volta à normalidade, e possamos sair deste estado de agonia e tempos sombrios para uma nova ‘era’ de esperança. Esperança esta que ainda move nossos corações.
Chatô é escritor