Com certeza você já ouviu que o caminho para o sucesso profissional é trabalhar incansavelmente. Nunca desistir. Mas saber os seus limites e relaxar é essencial para a saúde mental.
Uma pesquisa realizada pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), em parceria com as empresas Talenses e Gympass, mostrou que 43% dos entrevistados dizem que estão com sobrecarga de trabalho. Outros 31% afirmaram sofrer pressão por resultados e metas. O levantamento foi feito em janeiro deste ano com 572 pessoas.
O psicólogo Luiz Mafle, professor de psicologia e doutor em psicologia pela PUC Minas (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) e pela Universidade de Genebra, explica que a sobrecarga acontece quando temos diversas tarefas para realizar ao mesmo tempo ou quando estamos muito preocupados com uma atividade.
Além das demandas do trabalho, somam-se as tarefas de casa e os cuidados com a família. "Por exemplo, quando é preciso tomar conta de alguém que tem uma necessidade e precisa estar presente o tempo todo, com cuidados, isso gera uma sobrecarga. Ou quando se está num trabalho que a todo momento apresente uma urgência, o tempo todo você precisa checar, verificar, lembrar. Na hora que essas duas situações se acumulam é uma bomba. Os níveis de estresse e de depressão podem dobrar", explica o especialista.
A seguir, o psicólogo lista dez sintomas do excesso de responsabilidades que podem levar a um quadro de burnout.
Irritabilidade
Uma das principais características de uma pessoa que está tentando lidar com diversas tarefas ao mesmo tempo é a irritabilidade. "A pessoa fica muito sensível. A irritabilidade pode surgir na forma de agressão, quando ela é reativa, ou também quando chora mais do que o normal. Isso acontece porque ela está tentando se livrar de qualquer outra demanda que possa surgir", alerta Mafle.
Insônia
Com tantas coisas para fazer e a cabeça cheia de pensamentos, normalmente quem está sobrecarregado não consegue dormir bem. "Com o sono desequilibrado, o cansaço se torna ainda mais intenso. Além disso, começa a gerar impactos na rotina e também na saúde física", diz o psicólogo.
Uma forma de driblar essa situação é criar uma rotina de higiene do sono, evitando tomar café após as 15h, praticar exercícios físicos e ficar longe das telas ao menos duas horas antes de dormir.
Perda de rendimento no trabalho
O excesso de preocupações e tarefas também prejudica o foco e a atenção no trabalho. "Quem está sobrecarregado se sente desmotivado e com dificuldades de concentração, o que pode impactar diretamente na rotina profissional. Além disso, a irritabilidade e os sentimentos à flor da pele podem provocar conflitos entre os colegas", afirma.
Aumento ou perda de apetite
A sobrecarga emocional também atinge a forma como cuidamos do nosso corpo e da alimentação. "É possível ver pessoas que esquecem de comer e outras que descontam os sentimentos na alimentação. Precisamos olhar com cuidado e entender por que está acontecendo esse desequilíbrio na alimentação. Pode ser um sinal de que o corpo e a mente precisam de ajuda."
Sentimento de fracasso
"Com tantas atividades sob seu controle, a pessoa sobrecarregada muitas vezes não consegue dar conta de tudo e se sente frustrada e com o sentimento de desamparo. Ela começa a abraçar o mundo e isso a sufoca e a frustra", conta. Essa situação é comum em pacientes que estão enfrentando o burnout.
Ansiedade
O excesso de demandas é um prato cheio para a ansiedade. "O cansaço mental pode vir acompanhado de dores no peito, falta de motivação e crises de ansiedade. Com tantas preocupações é comum que os indivíduos fiquem mais ansiosos e comecem a criar cenários em sua cabeça, o que pode aumentar ainda mais os gatilhos para ansiedade", revela Mafle.
Depressão
A sobrecarga, quando é enfrentada durante longos períodos, é um dos principais fatores que causam ansiedade e depressão. "Quando essa sobrecarga é vivida por longos períodos, a pessoa começa a se sentir frustrada, a vida começa a se paralisar, porque não sobra espaço para outros crescimentos, desenvolvimentos, e vira uma rotina muito pesada", observa o psicólogo.
"A pessoa vai se sentindo pior, cansada, sem energia, não consegue ter uma vida pessoal nem um autocuidado, vai se sentindo desvalorizada, abandona e isso aumenta o nível de ansiedade e depressão", esclarece.
Isolamento
Em um nível mais avançado de sobrecarga, a pessoa começa a se fechar, a se isolar, não tendo contato com os amigos e familiares. "Ela se fecha e não conta com mais ninguém, quer se isolar. Tudo parece virar uma exigência, então ela acha que qualquer outra demanda vira uma tarefa, assim começam os problemas nas relações", diz.
Deixar o autocuidado de lado
Com tantas tarefas, a pessoa não consegue ter um tempo para olhar para si mesma. "Ela perde o prazer em se cuidar, de se arrumar e, às vezes, deixa de lado até os atos de higiene", comenta Mafle.
"Ela não se olha mais com carinho e atenção, porque a exaustão já tomou conta, e o autocuidado se torna mais uma tarefa em meio a tantas."
Não buscar ajuda
"É importante buscar ajuda e se cuidar. Uma pessoa com sobrecarga tira muito proveito da psicoterapia, porque ela vai compreender quais os motivos que estão levando ela a assumir todas essas responsabilidades de uma vez, e provavelmente sozinha", explica.
De acordo com o psicólogo, a pessoa sobrecarregada se sente menos valorizada, então para mostrar seu valor assume muitas tarefas para as pessoas perceberem que ela tem capacidade. "A psicoterapia é fundamental para ver até que ponto a responsabilidade deve ser assumida e até que ponto ela deve ser compartilhada com alguém, porque muitas vezes essas crenças centrais de não ser amado, não ter valor, nos fazem tomar decisões, ter atitudes e pensamentos que nos colocam em enrascadas. A terapia é um ótimo lugar para encontrar novas saídas, possibilidades, formas para lidar com as situações, trazendo menos peso para nosso dia a dia."(Da Folha de SP)