Chamou a atenção pela audácia brutal o assassinato a tiros de Antônio Vinícius Gritzbach, delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), em 8 de novembro do ano passado, em plena luz do dia, no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP), o maior do país.
De imediato, cogitou-se à época que o ataque espetaculoso teria sido obra da facção criminosa. Dois homens encapuzados saíram de um carro segundos depois que o empresário deixou a área de desembarque do aeroporto, matando-o em meio a outros passageiros. Um motorista de aplicativo também morreu.
Passados mais de dois meses, porém, uma investigação da Corregedoria da Polícia Militar abre a caixa de Pandora de conexões espúrias entre o crime organizado e agentes da corporação.
Nesta quinta-feira (16), 15 PMs suspeitos de envolvimento com o PCC foram alvo de uma operação realizada pela própria instituição, com ordens de prisão decretadas pela Justiça. Entre os presos está um cabo identificado como o autor do assassinato.
Se comprovada a linha até agora estabelecida, a apuração da Corregedoria expõe a alarmante influência do PCC nas forças de segurança do estado. Ivalda Aleixo, delegada do caso, relatou nesta semana que trabalha com a hipótese de que a morte do delator tenha sido encomendada pela facção e executada por policiais.
Não eram poucos os indícios da penetração nefasta do crime organizado entre agentes. Desde novembro, policiais militares e civis envolvidos na investigação já suspeitavam da participação de PMs. Entre os detidos na operação está o tenente que chefiava a escolta de Gritzbach.
Trata-se de caso escandaloso que deveria, no mínimo, fortalecer o controle tanto externo quanto interno sobre a atividade policial, ainda precário. É preciso, por óbvio, que a corporação e a Justiça demonstrem rigor na punição dos agentes eventualmente envolvidos com o PCC.
Ao afirmar que a "PM está punindo a PM", o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) aponta o pouco que há de positivo no episódio chocante, mas cumpre observar que estamos apenas nos estágios iniciais da apuração. Há longo caminho até a acusação formal, o julgamento com pleno direito à defesa e a condenação dos envolvidos.
A polícia paulista, cuja imagem já está desgastada devido à escalada de sua letalidade, precisa mostrar que não coaduna com o crime que diz combater —separando a banda podre do restante da corporação, que, espera-se, seja ampla maioria.(Da Folha de SP)