• Crônica:  Quem dança, dança

    820 Jornal A Bigorna 25/06/2023 12:00:00

    Crônica

    Essa modernidade toda está deixando o planeta de ponta-cabeça. Cada um sabe muito bem onde o seu calo aperta. Mas entendo que há modismos que devem ser trabalhados pelos adeptos, antes de adotá-los. Para não se arrepender depois.

    A dança na boquinha da garrafa, por exemplo, foi uma das manifestações mais esdrúxulas que os avançadinhos ousaram produzir um dia. Quem teve a infeliz ideia de praticar tal ato deve chorar todas as lágrimas.

    Durante a instalação de alguma novidade o sujeito abandona aquele resquício de decoro e cai na gandaia do fato.

    No futuro, porém, família reunida, o netinho resolve girar a gravação, ao descobri-la no fundo esquecido de uma gaveta, lá onde a vovó guarda antigos retratos e orações recortadas.

    E eis, entre sombras e chuviscos, o vovô, então no auge dos seus trinta e pouco anos, rebolando na boquinha da garrafa. Convenhamos, não nos parece uma cena merecedora de espaço nobre na memória de alguém.

    Na esteira da dança na boquinha da garrafa, que de sensual não tem nada no universo masculino, temos aí, hoje, o corcovear horizontal patrocinado pela Anita com a música Envolver que a coloca entre a mais executadas do planeta.

    Pois bem, muitos marmanjos se achando em shortinho, bundas empinadas corcoveando como lagartixa que perdeu o rabo. Quem assim o faz deve ponderar que hoje, ao contrário da ridícula dança da garrafa, terá sua performance gravada para o resto de sua existência, sem chiados e chuviscos.

    O sujeito deve se perguntar: estarei no futuro preparado para o inevitável ridículo de tal manifestação? Vale dizer que nem todos são Anitas, principalmente esses marmanjos que melhor fariam se encarassem um eito de cana para o corte.

    Ah, antes que alguém venha com o politicamente incorreto, entendo, sim, que cada qual faz do seu qual o que bem entender.

    O colunista apenas faz o alerta: deve se tomar cuidado com a dança com a qual hoje se dança para não pisar no pé da decência quando a música da vida se fizer com outros acordes.

    *Por José Carlos Santos Peres

    OUTRAS NOTÍCIAS

    veja também