Ernestina estava com 76 anos, havia tido um casamento feliz com Rodolfo, falecido ano passado e, de uma maneira geral, não podia reclamar da vida.
Seu único desgosto era com o casamento da filha. Em suas palavras, tudo estava dando errado desde que a "Heloísa passou a andar com o William". Apesar de a união do casal ter sido concretizada há apenas dois anos, a Matriarca da Família Souza realmente detestava o genro com todas as forças.
Quando rezava todas as noites, seus pedidos eram sempre em prol da família, dos amigos, dos conhecidos e das “pessoas de bem em geral”. Costumava pedir também pela saúde de todos.
Ernestina não era uma má pessoa, e por isso não costumava desejar o mal das pessoas, mas se o fazia, não passava de um lampejo de pensamento, que logo se esvaia.
Mas nos últimos dias, sentia que precisava se confessar. Foi para a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, que ficava no centro de Vila Verde e pediu para falar com o Padre Alcides.
Sabendo da religiosidade aflorada de sua fiel e percebendo sua angústia, o Sacerdote parou o que estava fazendo e a atendeu na mesma hora.