Contos do Zé #6 - O mensageiro do futuro

Meu nome é Elton e vivo no futuro. Em 2048, mais precisamente. Talvez você ache que tenha tirado a sorte grande por poder assistir a um vídeo do futuro, mas não. Viver aqui é uma merda. Os carros não são voadores, mas apenas autônomos, o que já é alguma coisa.

Não podemos mais ver a luz do Sol ou sair nas ruas porque a poluição tomou conta de tudo. A fumaça tóxica produzida pelas indústrias acabaram com a maioria absoluta da biodiversidade. Restaram apenas os cactos, baratas e coisas assim. A temperatura também subiu muito. Mas não é tão ruim quanto poderia ser, pois criamos cidades subterrâneas e deu pra seguirmos adiante.

O ruim mesmo, são os mimimi, como vocês dizem aí na sua época. Não podemos enviar chocolates ou flores para as mulheres, sob pena de sermos processados e presos por cinco anos, sob a acusação de assédio. É isso mesmo. Não estou falando de estupro e nem nada disso. Estou falando de cantadas bobas e bilhetinhos inocentes! Pois é cara, a época dos galanteadores como o Vinícius de Moraes já faz parte do passado para nós dois, mas aqui para mim, a coisa está muito pior. O Governo está quase conseguindo implantar uma espécie de Polícia do Pensamento, como naquele livro do Orwell, lembra? Como chama o livro mesmo? Era uma data mais ou menos próxima do tempo em que você vive… Ah, 1984. Não que isso mude muita coisa nos rumos da nossa conversa.

Outra coisa que acabou foi a Amarula, porque vocês mataram os bichos, o povo e até mesmo o espírito da África. Gostou do meu trocadilho infame com o slogan da bebida? Vamos lá, não foi tão ruim…

Outra coisa bem ruim que aconteceu aqui, foi a propagação dos vírus na internet. Sei que para vocês isso já é um problema, mas agora as coisas ficaram piores, porque tudo é controlado pela rede mundial de computadores. Geladeiras, carros, marca-passos, sistemas internos das casas e, claro, os celulares, computadores e tablets. Esses dias um cara morreu porque não tinha grana para pagar um hacker que invadiu o seu carro durante uma viagem e cortou os freios do veículo, que colidiu com um caminhão dos Correios.

Bom, já falei demais. Não vim aqui para dar algum tipo de alerta ou sei lá o que. Vocês já falharam. Falharam enquanto filhos, pais, amigos e até mesmo como seres humanos. Não dá mais tempo de consertar toda essa lambança. Apenas aproveite o tempo que ainda lhe resta para sentir o calor do pôr do Sol em seu rosto.

*Por José Renato Fusco. É Advogado, Jornalista e Escritor