• Contos do Zé #3 - Casa assombrada

    1904 Jornal A Bigorna 20/01/2020 11:50:00

    Palanque do Zé

    Hugo já era um cara adulto, casado com Estela e pai de dois golden retrievers: Scooby e Homer.

    Certa tarde, quando chegou do trabalho, se dirigiu até a cozinha, onde sua esposa fazia o jantar e decidiu comentar sobre uma conversa que ouviu no escritório:

    • Amor, hoje os caras do escritório estavam falando sobre Espíritos que assombram casas…
    • Certo…
    • Eles diziam que os antigos afirmavam que Espíritos não entram na nossa casa sem permissão.
    • Ainda bem! - Disse Estela em tom de gozação.
    • Não zoa, é sério.
    • Não estou…
    • Então, eles ficam parados nas portas e janelas esperando para serem convidados a entrar, ainda que de maneira indireta.
    • Como assim?
    • Por exemplo, sabe quando a porta abre sozinha, por causa do vento?
    • Sei…
    • Então, aparentemente tem gente que brinca com a situação dizendo: "Pode entrar".
    • E?
    • E coisas ruins acontecem, ué! O Espírito fica vagando pela tua casa, encostado nos moradores e visitantes até se tornarem obsessores.
    • Credo Hugo! Deixa disso. Que besteira é essa agora?
    • De acordo com os caras do trabalho, se a gente quiser verificar se tem alguma Entidade maligna rondando a nossa casa ou não, ao anoitecer, é preciso acender uma vela na frente da porta principal.
    • Hum…
    • Daí temos que dizer em um tom de voz calmo: "Se quiser entrar, a vela terá que apagar".
    • E daí, o que acontece?
    • Se a vela apagar, significa que o Espírito está ali e quer entrar, bastando para tanto, que você convide.
    • E se a vela ficar acesa?
    • Aí significa que não tem Espírito nenhum ali.
    • E como faz para saber se a Assombração já entrou na casa?
    • Nesse caso, a vela iria cair...

     

    *** ** *** ** *** **

    TRÊS SEMANAS DEPOIS

    *** ** *** ** *** **

     

     

     

    Assim que Hugo chegou em casa, percebeu que Estela estava perturbada, e os cachorros - geralmente calmos e gentis - estavam atiçados.

     

    • O que aconteceu, querida?
    • Acho que tem Fantasma em casa.
    • Porque?
    • Coisas caíram sozinhas hoje…
    • Mas isso é normal, Amor!
    • Hugo, se você não me ajudar, eu não vou conseguir dormir!
    • Estela, você está exagerando.
    • Eu não sou louca, Hugo!
    • Não falei isso!
    • Mas pensou!

     

    Hugo, sabendo que aquela discussão iria muito longe se permitisse, e querendo precaver-se de uma noite mal dormida, já que no dia seguinte iria levantar cedo para uma viagem de negócios, logo propôs que testassem a questão da vela. Ele sabia em seu íntimo, que aquilo tudo não passava de uma idiotice, lenda urbana clássica, por assim dizer.

     

    • Amor, pega a vela, o fósforo e um pires. Vou colocando duas cadeiras no lugar.
    • Tá.

     

    Cerca de cinco minutos depois, Estela já havia providenciado tudo e chegou a tempo de ver Hugo retirando o tapete que recebia a todos que chegassem na residência do Sr. e da Sra. Zanardi com uma frase bem humorada: “Cuidado com os donos. Os cachorros são do bem!”

    Percebendo que as cadeiras já estavam postas lado a lado bem de frente para a porta, sentou-se ereta e assistiu ao marido preparar todo o resto para a experiência.

    Após abrir a porta da sala, acender a vela e posicioná-la bem no centro da mesma, Hugo sentou-se ao lado de sua esposa e, como quem não queria nada, calmamente disse:

     

    • "Se quiser entrar, a vela terá que apagar".

     

    Como esperado, nada aconteceu com a vela, que manteve-se exatamente como e onde estava.

    Ainda assustada com a experiência realizada na sala de estar de sua casa, Estela perguntou ao marido, que a olhava com ar de riso:

     

    • Isso quer dizer que não tem nenhuma Assombração em casa?

     

    Mas antes que Hugo pudesse sequer arquitetar uma resposta que não desagradasse Estela, o que lhe garantiria uma noite tranquila de sono, uma voz maligna e gélida respondeu a pergunta bem próximo ao ouvido dos dois:

     

    • As coisas não são tão simples assim...

     

    *Por José Renato Fusco. É Advogado, Jornalista e Escritor

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