João era um homem realizado. Tinha família completa e, na medida do possível, feliz. Os últimos três anos haviam sido especialmente bons porque sua primeira neta havia nascido e a empresa ia bem.
O ramo de hotelaria nunca foi fácil, mas poder dividir o peso da tarefa durante a caminhada com a filha Ana Clara tornou tudo mais fácil.
Sua esposa, Silvia, era uma mulher bonita, honesta e de bons valores familiares. Em suma, ela lhe completava. Foram felizes desde o início do namoro que rapidamente se transformou em casamento, afinal não era difícil perceber que ela era a mulher certa. Mas tudo ficou ainda melhor quando vieram os filhos, Diego e Ana Clara. Ele escolheu medicina e ela, hotelaria.
Com a neta Clarice no colo, João não podia se sentir mais completo e feliz ao caminhar no Jardim Botânico da cidade de Vila Verde durante uma tarde fresca de verão. Mas isso não o impediu de, ao sentir o perfume de uma linda moça loira no auge do frescor de sua juventude, lembrar de sua primeira namorada.
Sim, o cheiro inconfundível do J’adore eau de parfum é uma fragrância floral feminina impossível de esquecer. Seu cheiro remete à uma época em que a sensualidade feminina era algo a ser respeitosamente exaltada, tanto quanto as curvas da lendária ânfora criada por Christian Dior.
Durante aqueles breves segundos em que o perfume permaneceu suspenso no ar após a passagem da jovem Dama, João sonhou acordado com uma vida que nunca existiu, afinal ele jamais teve qualquer coisa além de uns beijos com sua primeira namorada.
Isso o fez, mais uma vez, traçar um paralelo com o perfume da Dior, pois certa vez o seu perfumista-criador disse: “J’adore inventa uma flor que não existe.”
Já de volta a si mesmo e à realidade que o envolvia, João perguntou para a netinha:
- E se a gente tomar um sorvete?