Considerado um dos maiores traficantes de drogas do mundo, o ex-major da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul Sergio Roberto de Carvalho, apelidado pela imprensa europeia de Escobar Brasileiro, foi preso na manhã desta terça-feira (21) em Budapeste, na Hungria.
Foragido das polícias do Brasil, de Portugal, da Espanha e de outros países, o ex-policial, também conhecido como major Carvalho, usava um passaporte mexicano falso. Segundo as autoridades, ele não resistiu à prisão.
A operação da polícia húngara contou com a participação da Polícia Judiciária de Portugal, país que teria sido usado por Carvalho, em várias ocasiões, como porta de entrada para as drogas no continente europeu.
Investigações estimam que ele tenha movimentado 45 toneladas de drogas da América do Sul para a Europa, com um valor estimado de cerca de R$ 2,2 bilhões.
Entre os vários delitos atribuídos ao ex-major, estão os 580 kg de cocaína encontrados na fuselagem de um jatinho executivo na Bahia, modelo Dassault Falcon 900, em fevereiro de 2021. A aeronave decolaria com direção ao aeroporto de Tires, um pequeno terminal em Cascais, na Grande Lisboa.
Assim como o colombiano Pablo Escobar (1949-1993), que liderou o cartel de Medellín e o tráfico transatlântico de drogas, o ex-major acumula uma série de fugas espetaculares da polícia.
O ex-policial viveu em Portugal em períodos alternados, entre 2018 e 2020, sempre em endereços de luxo.
Além dos imóveis, Carvalho comprou uma empresa e, segundo investigações, teria se dedicado a atividades de lavagem de dinheiro.
Investigações conduzidas em Portugal indicam que ele teria comprado ainda uma empresa aérea, a Airjetsul, com o objetivo de usar os aviões para o transporte dos entorpecentes.
Em 2020, Carvalho esteve muito perto de ser preso em Lisboa, em uma operação conjunta da Polícia Federal brasileira e da Polícia Judiciária lusa. O Escobar tupiniquim conseguiu fugir justamente usando um avião de sua propriedade.
Embora tenha escapado, o ex-policial abandonou 12 milhões de euros em dinheiro vivo durante a fuga. As notas estavam em várias malas de viagem, acondicionadas dentro de uma van estacionada na garagem do prédio de luxo onde Carvalho estava morando, na avenida da Liberdade, um dos endereços mais caros da capital portuguesa.
Na operação, batizada de Camaleão em Portugal e de Enterprise no Brasil, os policiais identificaram ainda outros bens, incluindo contas bancárias e pelo menos dois imóveis, avaliados em 2,5 milhões de euros, ligados à rede de tráfico que seria comandada pelo ex-major.
O balanço da operação identificou também, entre outros ativos, 37 aeronaves e 163 imóveis, avaliados em R$ 132 milhões, no Brasil.
Em 2018, Sergio Roberto de Carvalho chegou a ser preso na Espanha, quando autoridades do país investigavam uma rede de tráfico na região da Galícia. Ele estava usando um passaporte falso do Suriname com o nome de Paul Wouter.
Seus advogados conseguiram que ele fosse liberado com uma fiança de 200 mil euros para aguardar o processo fora da prisão. Nesse período, ele teria voltado a Portugal.
Pouco antes do julgamento, uma reviravolta: seus representantes disseram à Justiça espanhola que ele teria morrido.
O ex-major forjou a própria morte. A Justiça foi informada que o réu teria morrido em uma clínica de estética de luxo no balneário de Marbella. O óbito foi certificado por um cirurgião plástico e o corpo, cremado. Diante da fraude, o clínico responsável foi processado pelas autoridades da Espanha.
Além de suas próprias identidades falsas, processos na Europa indicam que o Escobar brasileiro contaria ainda com um exército de laranjas, incluindo alguns de seus familiares.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Sergio Roberto de Carvalho.
Nascido 1958 em Ibiporã, no Paraná, mudou-se com a família para Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, ainda na juventude. Ingressou na Polícia Militar do Estado em 1980.
Os problemas com a Justiça começaram ainda na década de 1980, com atividades ligadas ao contrabando na fronteira com o Paraguai.
Já sob acusações de tráfico de drogas, foi para a reserva em 1997. Pouco depois, Carvalho foi condenado a 16 anos de prisão por tráfico de entorpecentes. No semiaberto, voltou a ser detido.
As acusações não pararam, incluindo participação em uma quadrilha que mantinha dois cassinos clandestinos em Campo Grande e um na Bolívia.
Em 2010, teve a aposentadoria suspensa. O benefício, no entanto, foi restabelecido em 2016 após recurso na Justiça. Em 2018, acabou por ser formalmente expulso da PM.(Da Folha de SP)