AS MENINAS DO BAR GRETA GARBO
E
AS JANELAS DO MESTRE JANUÁRIO
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José Carlos Santos Peres
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No bar Greta Garbo
As mesas se abrem à rua do cais
E delas é possível ver
As meninas de bolsas
Pelas esquinas:
- vinte dólares a hora,
e sem beijo na boca
A rua em declive
Com pedras-ferro dependuradas
Queda-se humilde e eterna
No átrio da capelinha
De Nossa Senhora do Rosário;
Janelas em madeira de lei
Confeccionadas pelo Mestre Januário
Em cores tristemente alegres
Fecham-se às mulheres da vida
Enquanto os homens das mulheres
Que não são da vida
Amam-nas como se da vida fossem;
Beatas apressadas passam pela rua
Em seus sapatos de saltos baixos
Véus soturnos e olhos ariscos
Condenando ao inferno
Todos os mortais
Nas incontáveis contas
Dos seus rosários.
O padre é sempre o último daquele séquito
E traz no bolso da batina
Todos os santos às meninas
Que agradecidas beijam-no às bochechas
E ganham dele o céu...
Das cadeiras do Bar Greta Garbo
Voltadas à rua do cais
Todos os homens são pardos
Camuflados pela neblina
Que vem do mar
Quando a madrugada chega
Com seus últimos cães,
Galos e quintais
Então o barman recolhe as mesas
Voltadas à rua de pedras-ferro
Enquanto ainda se ouve
Os últimos passos das mulheres
Que solidárias aos infelizes
Fazem de graça...
E até beijam na boca
Principalmente aqueles que não dormem
Em quartos com janelas do Mestre Januário
Chamam-nas de princesa
E as presenteiam com pérolas
De ostras vazias...
Das mesas do Bar Greta Garbo
A vida é de uma tristeza
De dar dó.