Demorou décadas, mas a Justiça, as polícias e o Ministério Público parecem finalmente avançar para desbaratar os muitos elos do PCC, principal organização criminosa com base em São Paulo, e a política. É de conhecimento geral que diversos partidos, da esquerda à direita, praticamente todas as Câmaras municipais e setores inteiros, como transporte e terceirização de mão de obra, são operados pelo crime organizado. Mas isso parecia ser um dado da paisagem com o qual ninguém estava interessado de fato em lidar.
As duas operações em uma semana realizadas pelo MP e pela polícia de São Paulo começam a colocar o dedo nessa ferida, com fortes indícios de que contratos não só nas áreas já citadas, mas em muitas outras com intersecção nas administrações públicas estão sob domínio do PCC. A corrupção de toda a cadeia de comando, dos servidores públicos encarregados de licitações aos legisladores, é a um só tempo causa e a consequência dessa penetração.
O financiamento de candidatos pelo crime organizado é uma realidade crescente eleição após eleição. Com as restrições impostas a financiamento empresarial a campanhas, as únicas organizações com "liquidez" para injetar dinheiro vivo na política são as criminosas, numa ponta, e as igrejas, em outra. Isso explica muito do perfil dos políticos eleitos nos últimos pleitos.
É obrigação da imprensa pautar essa discussão para além do que é falado a boca pequena em off, mas nunca chega efetivamente aos debates, entrevistas e sabatinas: por que praticamente todos os partidos abrigam em seu quadro de filiados políticos com amplos sinais de terem ligação com organizações criminosas? E por que esse caráter pluripartidário, ecumênico mesmo, dita o silêncio dos candidatos da esquerda à direita para cobrarem seus adversários?
*Por Vera Magalhães