• A direita brasileira anda atrás de um herói, e Elon Musk se candidatou para a vaga

    532 Jornal A Bigorna 09/04/2024 17:00:00

    Quem resolver enfrentar a dar uma espionada nas redes e grupos bolsonaristas esta semana irá perceber um certo júbilo com o posicionamento algo fanfarrão do bilionário Elon Musk em seu enfrentamento contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Com as adversidades enfrentadas por Jair Bolsonaro, a chamada extrema-direita procura um substituto com urgência para servir de líder. Nomes como os governadores Tarcísio de Freitas, de São Paulo, Romeu Zema, de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado, de Goiás, estão sob escrutínio. Por terem obrigações administrativas, movem-se de maneira mais discreta do que a pretendida pelos radicais. Mas neste momento quase psicodélico dos acontecimentos, quem segura o bastão que amalgama a direita é o gringo Musk, o dono do “X”, da Tesla, da Starlink, entre outras empresas globais.

    Integrantes do governo, militantes de esquerda, e demais interessados em analisar a cena política geral do Brasil nunca deveriam retirar de suas mentes o fato de que o presidente Lula foi reeleito com apenas 51% dos votos válidos. A outra quase-metade resolveu apoiar Jair Bolsonaro, conscientes de suas ideias. As pesquisas recentes mostram que esses índices pouco se alterariam. Felipe Nunes e Tomas Traumann, no livro A Biografia do Abismo, sustentam a tese de que o cenário é de calcificação. Ou seja, ambos os lados estão entrincheirados em suas posições. E, pior, acham que os seus adversários políticos são moralmente indefensáveis.

    Além disso, se a gente analisa as pesquisas de popularidade por meio de faixas de renda, poderá constatar que o apoio ao presidente Lula é massivo nas classes D e E. A partir da classe C já começa a perder terreno paulatinamente enquanto se eleva a pirâmide social. Com essas informações, é possível inferir que quanto maior o acesso das pessoas às tecnologias crescem as chances delas se oporem ao atual governo. Logo, haveria um critério social na desvantagem que os petistas levam nas redes. Em alguns casos, uma surra.

    Nas calcificadas teses bolsonaristas divulgadas nas redes e nos aplicativos de mensagens estaríamos vivendo uma “ditadura do Judiciário”. Quem ousaria falar as verdades reveladas seria imediatamente calado e, no limite, levado para a prisão por Alexandre de Moraes. O ministro agiria com apoio aberto da Suprema Corte, em acerto com o petismo e parte da mídia. É assim que eles pensam e são milhões.

    Foi nesse cenário que surgiu, como se viesse de um foguete no céu, alguém capaz de desafiar Alexandre de Moraes sem o risco de sofrer represálias. A tropa, finalmente, voltou a ter um líder que não tivesse abatido ou amedrontado. E com as qualidades que se espera desse tipo de guia: meio sem limites, meio tresloucado, algo anárquico, subversivo e rebelde. Nessa configuração mundial e brasileira de 2024, anarquia, subversão e rebeldia se tornaram traços da direita, enquanto respeito às instituições se tornaram marcas da esquerda, como se vivêssemos um mundo invertido ao de algumas décadas atrás. Nesses novos tempos, pela defesa ao governo, destaque para o perfil de fofoca “Choquei”, que printou a reportagem em que os executivos das suas empresas se queixariam do uso abusivo de drogas por Musk.

    A opacidades dos inquéritos sobre fake news conduzidos por Alexandre de Moraes são um dos combustíveis que movem a turma pró-Musk, digo, pró-Bolsonaro. Afinal, mesmo quem quer defender a batalha do ministro contra os notórios golpistas está sem as informações devidas. Quem foi censurado e por qual motivo? Censura é algo muito sério para ser tratada por debaixo do tapete.

    Nisso, um grupo com DNA e mesmo prática autoritária consegue levantar troféus como o da liberdade de expressão. A falta de limites do ministro do STF acabou por permitir ao bolsonarismo se associar a esses valores sem maiores contestações. Mas algo talvez precise ser dito: o repúdio a Moraes, por muitos, não se deve aos abusos contra o Estado de Direito. Mas ao fato de que ele foi fundamental para revelar o golpismo latente de Jair Bolsonaro e talvez colocá-lo um dia atrás das graves. Não se trata aqui de princípios, mas de conveniências.

    Logo, há um estranho paralelo de Moraes com o ex-juiz Sérgio Moro. Quem se opõe a ambos alega que o desrespeito institucional cometido pelos magistrados precisa ser punido ou debelado. Mas deixam em submerso que os execram por terem prejudicado seus grupos políticos de preferência. Logo, nesse Brasil calcificado, haveria uma simetria entre Moro e petismo na comparação de Moraes com bolsonarismo. Movido ainda não sabemos com exatidão por quais interesses, Musk não tem mínima ideia do pântano em que se meteu.

     

    Opinião por Fabiano Lana

    Filósofo e consultor político

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