(quando vim da minha terra/se é que vim da minha terra/ (não estou morto por lá?/ a correnteza do rio/ me sussurrou vagamente/ que eu havia de quedar/ lá donde me despedia – Drummond).
Listas amarelas, leve como pluma. Bate onde bater: viaja. Não tem gomos; rebarbas não existem. Plastificada! Só falta falar. Mas se não houver jeito, inventa curvas e ganha vida.
Ele sai correndo: o vô não sabe...
Vejo-o, vendo-me.
Tantos anos...
Vejo-me em campo de terra-batida, tarefas escolares espalhadas por qualquer canto, mãe atarefada pedindo por responsabilidade, que bola não dá camisa...
Pai disfarçando, mas olhando para ver se o garoto dava jeito... Não resistia: botas estrategicamente colocadas, e seu grito de Gilmar ecoando pelas tardes, para desespero da mãe-atarefada.
Juntos, suados, capotão sob os braços a caminho do rio na quase noite, com os lagartos se mexendo por entre folhas secas e sabiá-laranjeira recolhendo com seu canto mais um sol.
O mergulho na água-lâmina, a bola esperando no barranco com as roupas maiores. Depois retornar, falando do gol perdido, do chute que desandou. Abraçados, para o jantar.
Lamparina fumegando, traçando movimentos na parede, o oratório com velas para todos os santos e mãe pregando botões, passando roupas com o ferro-de-brasas...
No rádio os ruídos abafados que as válvulas conseguiam sustentar. Às 19 horas em Brasília a voz era do Brasil. De um Brasil, profundo e distante.
Tantos anos...
E são essas coisas que me veem e me pegam nesta tarde-noite de um outono que se inicia trazendo um quê de verão na alegria daquele menino que me convida a ser um menino... Este menino, que não mais está.
*Por José Carlos Santos Peres