Pela trilha do horto, buscando anteparo nos galhos mais finos, pressenti uma sombra em fuga entre árvores.
Estaria sendo acompanhado por algum ser encantado? Algum caminhante sem rumo ou animal desgarrado do seu bando?
Percebi mais ao longe, segundos depois, uma movimentação cirandando pelas folhagens... Seria um grunhido ou uma voz ordenando alguma ação? Um tronco apodrecido que naquele maldito instante resolvera se ajeitar sobre um túmulo de húmus?
Ousei, na solidão da mata, um “quem vem lá?”, dando à fala uma tonalidade grave que normalmente minhas pregas vocais não suportam.
Não houve retorno. O meu lá ecoando floresta adentro, até que tudo se calou de vez para um vento em cochicho, descalço e preguiçoso estender sua esteira para se assentar...
Acho que, pelos próximos dias, farei minhas caminhadas pela avenida do Di Fiori, onde ao cair da tarde o vento que vem lá é só um vento com cheiro de terra molhada; e os cães soltos... Bem, aqueles cães têm nomes e endereços.
*Por José Calos Santos Peres
(Santos Peres - Horto Florestal de Avaré, outono de 23)