• Penitenciária de Itaí, uma cadeia do “mundo”

    7776 Jornal A Bigorna 08/05/2018 02:37:00

    Uma montanha de malas enche uma das salas do presídio de Itaí. São as bagagens de um em cada três habitantes desse mundo emparedado. Seus donos vieram diretamente dos terminais internacionais de Cumbica. E os minutos na fila da alfândega viraram anos atrás das grades. Aeroporto com maior movimento da América Latina, Guarulhos é uma das principais rotas para a cocaína sul-americana chegar à Europa. Seja pelo aumento da vigilância local, pelas crises econômicas ou por novos caminhos do narcotráfico, o número de prisões em Guarulhos e de detidos em Itaí caiu nos últimos anos - as rotas marítimas pelos portos de Santos, Rio e Salvador ganharam importância. Comparando 2012 com 2018, o contingente gringo caiu 35% em Itaí. No aeroporto, o número de flagrados diminuiu 12% entre 2015 e 2017.

    Entre 2008 e 2014, muitos europeus tentaram sair da penúria econômica tentando a sorte como “mula” (gíria para o pequeno traficante internacional que esconde droga no corpo ou na bagagem). Atualmente, a maré inverteu: o número de brasileiros presos por tráfico no exterior subiu 10% entre 2015 e 2016, segundo dados do Itamaraty. Já africanos e outros latino-americanos são uma constante na rota. Ao contrário das outras prisões, em Itaí as facções criminosas não dominam a unidade. Ao menos até agora. A rixa por lá é entre os presos africanos e os latino-americanos. São os dois maiores grupos. Há diferenças de etnias e religião (os nigerianos, o maior contingente nacional, é de maioria muçulmana), além de outras questões culturais. “As coisas mais banais aumentam muito. Um pequeno atrito pessoal se transforma em briga coletiva”, conta Cudjoe, o togolês que tem como principais amigos um boliviano e um chinês.

    Esse espaço físico da penitenciária diz muito sobre o papel do Brasil no sistema do tráfico. O próprio país se transformou em corredor. A cocaína produzida no Peru, Bolívia e Colômbia passa por aqui para fazer escala na África (principalmente Nigéria e África do Sul) antes de ir para Europa, Ásia e Oceania. Não por nada, nigerianos, bolivianos e peruanos são as nacionalidades com mais presos por ali.

    Em 2016, o Brasil ultrapassou a Rússia e assumiu a terceira colocação no ranking de países com maior população prisional. Só perde para EUA e China, respectivamente com 2 milhões de presos (0,61% de sua população total) e 1,6 milhão (0,12% de todos os cidadãos). No Brasil, são 726 mil presos (0,35% da população), sendo 182 mil nas 170 unidades prisionais do Estado de São Paulo (só sete não estão superlotadas. Itaí é uma delas).

    Tanto nas estatísticas do Brasil quanto nas de São Paulo, o tráfico de drogas é responsável por um em cada três detentos. Em Itaí, é de dois a cada três. Essa mesma proporção se repete entre as 247 estrangeiras concentradas na Penitenciária Feminina de São Paulo, que fica em Santana, zona norte paulistana.

    Inaugurado em 2000, Itaí foi até 2006 um presídio exclusivo para "jacks", gíria prisional para os condenados de crimes sexuais. Com a diminuição da população estrangeira nos últimos anos por lá, uma das quatro alas do presídio foi destinada este ano provisoriamente para estupradores que vieram de outras unidades. Os gringos não tem contato com eles. Por seu lado, os "jacks", apesar da natureza de seus crimes, recebem muitas visitas e cartas femininas.(DaF.S.Paulo)

     

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